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20 de fev. de 2012

Símbolos e Arquétipos na Umbanda por Adilson Marques


Há algum tempo, enquanto pesquisava sobre arquétipos na Umbanda, me deparei com um texto assinado por Adilson Marques que me chamou atenção por apresentar uma abordagem antropológica não religiosa.
Infelizmente quando tornei a pesquisar, o texto já não estava lá, o site havia sido retirado do ar, mas encontrei uma versão do cache do Google, e reproduzo aqui antes que este belo artigo se perca.



Símbolos e Arquétipos na Umbanda
por  Adilson Marques

Em 2001, tive um insight que transformou a minha vida na última década: utilizar os recursos da História Oral para entrevistar “espíritos”. Eu descobri a mediunidade de uma forma um tanto singular. Eu estava no Centro de Estudos e Vivências Cooperativas e para a Paz, uma organização espiritualista que existia na cidade de São Carlos, no interior do estado de SP, quando recebi a visita de dois jovens, com aproximadamente 23 anos de idade cada um. Eles se apresentaram, disseram que gostariam de conhecer o centro e, depois de certo tempo, disseram que eram médiuns kardecistas e que foram me procurar porque um espírito gostaria de falar comigo. Teria sido ele quem tinha dado o meu nome e o endereço onde me achariam. Achei a história bem curiosa e resolvi conversar com o suposto ser incorpóreo.

Fomos até uma das salas do referido centro e um dos médiuns, totalmente inconsciente, deu “passagem” para o espírito e conversamos durante quase uma hora. Foi com a orientação deste ser incorpóreo que fiz o meu primeiro livro, hoje na quinta edição, e que se chama “O reiki, a TVI e outros tratamentos complementares”. Neste livro, entrevisto este e outros espíritos, abordando a opinião deles sobre as terapias complementares ou alternativas, com mais ênfase sobre o Reiki.

Porém, um dos estudos mais interessantes que fiz, nasceu em 2005, após descobrir algo extraordinário do ponto de vista antropológico e sócio-cultural: um “preto-velho”, ou seja, um espírito que, supostamente, costuma se manifestar e atender consulentes nos chamados “terreiros de umbanda”, fazendo palestras públicas pela Internet e respondendo questões dos internautas sobre as epístolas do apóstolo Paulo, as lições de Krishna para Arjuna, os Sutras budistas, a Oração de São Francisco etc. 

No mesmo ano entrei em contato com o médium para saber da possibilidade de entrevistar “pai Joaquim de Aruanda”. Com sua resposta afirmativa, organizei entre os anos de 2005 e 2007, oito entrevistas com o “espírito”, na cidade de São Carlos/SP. 

Todas foram gravadas em vídeo, totalizando cerca de 28 horas de gravação, sendo boa parte do material sobre a Umbanda, religião medianímica em que os “pretos-velhos” se manifestam.

Tentei transformar este material em uma pesquisa de pós-doutorado, mas não consegui fazer com que o tema seduzisse a mente dos acadêmicos que aprovam projetos nas Universidades brasileiras. Tentei também fazer a pesquisa em algumas Universidades européias, mas também não obtive êxito. O jeito foi fazer a pesquisa de forma independente. Assim, em 2008, apresentei os primeiros resultados dessa prática de História Oral com os espíritos em um evento sobre imaginário na cidade do Recife/PE. 

Apresentei um vídeo chamado “o espírito da pós-modernidade”, que pode ser acessado no youtube e uma primeira reflexão sobre as idéias daquele suposto espírito, em um livreto chamado “Umbanda sem mistificação”, distribuído gratuitamente naquele ano e que, hoje, também pode ser acessado na internet, no seguinte endereço: www.scribd.com/homospiritualis

Tudo o que ele fala sobre a Umbanda é muito interessante, mas um dos ensina-mentos que chamou muito a atenção. Ele afirma que os espíritos que atuam nesta religião medianímica estão representando papeis. Ou seja, a postura que adotam é simbólica. Em outras palavras, não existe um espírito que seja preto-velho, índio ou criança. Mas ele utiliza uma ou outra postura de acordo com a necessidade do consulente e do trabalho que se realiza. Assim, um mesmo espírito pode se manifestar como preto-velho e, em seguida, como um índio. Para o consulente seriam duas “entidades” diferentes, mas, segundo afirma, pode ser o mesmo espírito representando dois papeis distintos.

Essa questão das posturas se torna mais compreensível quando estudamos a sua simbologia. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que há, segundo a fala do espírito pai Joaquim de Aruanda, uma diferença entre “entidades” e “espíritos que são auxiliados”. 

Por exemplo, quando se manifesta um “espírito sofredor” ou “obsessor” para ser esclarecido, não estaríamos diante de uma “entidade”. Somente os pretos-velhos, caboclos, crianças etc. é que são considerados “entidades”, por ele, uma vez que, em tese, possuem consciência do papel que estão representando.

Em segundo lugar, precisamos compreender a diferença entre o símbolo e o arquétipo. Ou seja, enquanto o arquétipo é universal e atemporal, o símbolo manifesta uma dimensão sócio-cultural. E isso fica bem evidente na Umbanda, comparando os ensinamentos transmitidos pelo espírito pai Joaquim de Aruanda com uma experiência vivenciada por um amigo umbandista que regressou recentemente do Japão.

Este meu amigo, enquanto estava no extremo oriente, foi convidado pela espiritualidade para organizar uma gira de Umbanda. Ele narra que, ao invés de pretos-velhos, manifestaram-se no trabalho velhos monges budistas. E, ao invés dos famosos caboclos (índios), foi surpreendido pela incorporação de samurais.

Ao me contar este fato, consegui compreender a dimensão simbólica das posturas adotadas pelos espíritos na Umbanda e a dimensão arquetípica que possuem. Ou seja, apesar da roupagem simbólica diferente, podemos notar que o arquétipo permanece o mesmo, não importa se o trabalho é realizado no Brasil ou no Japão. Se atentarmos às formas simbólicas, apreenderemos sua essência. Tanto lá como cá, as três posturas básicas manifestam o arquétipo da criança (felicidade), do adulto (coragem) e do ancião (sabedoria). Lendo o Sermão da Montanha, podemos notar que entre os que vão “herdar o reino de Deus” (os pacíficos, os mansos, os puros de coração etc.) há também forte analogia com os três arquétipos acima, o que é um forte indício que o planejamento da Umbanda no Astral como uma nova religião medianímica soube como relacionar os ensinamentos cristãos e todo o contexto sócio-cultural brasileiro, onde a Umbanda nasceu.

No caso do Japão, qual seria a necessidade de um preto-velho ou de um índio se manifestar para o consulente, cuja cultura é muito diferente da nossa? Enfim, por serem posturas simbólicas, ou seja, o “espírito” sabe que representa um papel, como se fosse um ator em cena, lá o arquétipo permanece, mas é vivenciado de outra forma. Daí o uso de símbolos que remetam ao cenário sócio-cultural japonês. Nesse sentido, fica compreensível o fato do índio ter sido substituído pelo samurai e, o preto-velho, por um monge budista.

Ao invés de um culto irracional ou de pessoas ignorantes, como as pesquisas antropológicas apontam, ou um culto de espíritos inferiores e obsessores, segundo muitos kardecistas, a Umbanda é uma arte medianímica que sabe bem como utilizar os recursos simbólicos e imagéticos para esclarecer, consolar e levar ensinamentos crísticos para os seus consulentes.

Adilson Marques é doutor em Antropologia das Organizações e Educação pela USP e autor de 18 livros, entre eles, “História Oral, Imaginário e Transcendentalismo: mitocrítica dos ensinamentos do espírito pai Joaquim de Aruanda, que pode ser acessado gratuitamente em www.scribd.com/homospiritualis. Vídeos com a gravação das entrevistas e outros podem ser acessados em www.youtube.com.br/homospiritualis.

A Umbanda do Futuro e o Futuro da Umbanda - Ensinando o padre a rezar missa parte III


Este artigo foi dividido em três partes bem distintas...

Na PARTE I me dediquei a justificar o título, afirmando que talvez o “padre” não esteja “rezando a missa” de maneira satisfatória.

Na PARTE II explico os 7 Raios que surgem em Deus e que orientam a existência nos 7 Sentidos Divinos, e deixo uma pergunta retórica: Será que as religiões que conhecemos estão cumprindo sua tarefa de estimular a evolução humana nos 7 Sentidos Divinos?

Nesta terceira e última parte, pretendo finalmente alcançar o objetivo descrito no título e, efetivamente, sugerir ao “padre” novas maneiras de “rezar a missa”. Contudo, minhas sugestões não são dirigidas aos padres, nem pretendo falar sobre a missa tradicional, mas da Umbanda, uma religião genuinamente brasileira, ainda muito jovem e promissora e de caráter universalista.

Este artigo é portanto dirigido aos médiuns e dirigentes de Umbanda.



A Umbanda, surgida na mistura entre as religiões de origem africana com o Adjunto de Juremá praticado pelos nossos índios, recebendo influência católica (sincretismo) e posteriormente também kardecista, existe no plano material há pouco mais de um século, tempo relativamente curto, se comparada a outras religiões.

Hoje, quando olhamos para as religiões, elas nos parecem completamente resolvidas (e estagnadas) com seus dogmas e livros de regras, mas nem sempre foi assim. A Bíblia, livro sagrado que serve de fundamento a tantas religiões cristãs, demorou quase 2 séculos sendo escrita e outros tantos sendo discutida, antes de ter sua versão “final” que conhecemos.

A Umbanda é hoje uma religião promissora em sua prática simples e objetiva, em sua universalidade e multidisciplinaridade, mas – ao contrário do que acreditam muitos dirigentes – não é uma religião pronta.

Particularmente acho ótimo que assim seja, temos a oportunidade – e a responsabilidade – de construir a Umbanda que permanecerá, não lidamos com nenhuma estrutura rígida e estagnada imposta de cima para baixo por clérigos com intenções politicas e/ou mercantilistas. A Umbanda que hora existe é aquela que fazemos existir no trabalho cotidiano das terreiras e, a Umbanda que existirá será aquela que construiremos no decorrer das próximas décadas (ou séculos) de prática umbandista.

Não convém elencar neste pequeno artigo as circunstâncias que motivaram o surgimento da Umbanda e tampouco as diferentes circunstâncias que justificaram algumas tendências adotadas na prática cotidiana. O passado é uma estrada que nos conduziu até o presente, e é no presente que devemos construir a estrada que nos conduzirá ao futuro e ao futuro da Umbanda.

Retomo aqui o título desta série de artigos: ENSINANDO O PADRE A REZAR MISSA, porque disto consistirão as linhas seguintes, apontar práticas e mitos que surgiram no passado umbandista e que – no meu entendimento – devem ser modificados na construção do futuro.


O Mito do Médium Cavalo

Não se trata aqui apenas do aspecto ofensivo existente na maneira como os médiuns são nomeados (até mesmo pelos guias) nas terreiras de Umbanda, mas dos conceitos por detrás destas nomenclaturas.

O que é um cavalo?

O cavalo é um animal irracional que pode ser adestrado para servir ao homem, transportando-o e deixando-se conduzir por este. Um “cavalo” bem adestrado – à exemplo de um médium bem treinado – é aquele que aceita a condução do cavaleiro sem impor resistência, dócil e obediente.

Outra maneira de nomear os médiuns é Aparelho.

Um aparelho é pouco mais que uma ferramenta, diria uma ferramenta complexa, com alguma tecnologia, que requer certo conhecimento para ser manipulada, mas ainda uma ferramenta.

Cavalo e Aparelho são elementos sem vontade própria e ilustram um padrão adotado pela mediunidade ao longo da história, a mediunidade inconsciente (chamada também incorporação “lisa”, sem interferência). Foi útil durante muito tempo, quando as religiões espiritistas careciam de credibilidade e pequenas proezas mediúnicas se prestavam a impressionar a plateia e atestar a veracidade do processo de incorporação.

A ingestão de alimentos, líquidos e objetos, inadequados ao consumo humano, – sem deixar resquícios no médium - bem como a manipulação de elementos como o fogo, só eram possíveis em incorporações inconscientes e, foram necessárias durante o período em que estas religiões estavam se consolidando. Atualmente estas práticas não são mais necessárias, e os próprios guias espirituais manifestam-se mais sutilmente, sem tomar por completo a consciência do médium.

Se o médium já não é mais um elemento desprovido de vontade, não é mais cavalo e tampouco aparelho, mas MÉDIUM: Mediador, agente intermediador da comunicação entre diferentes dimensões da vida.

- Por que motivos a mediunidade transformou-se de “inconsciente” em “consciente”?

Há muitas causas prováveis, dentre estas, alterações na realidade energética/espiritual do planeta, que demandam estudos mais profundos para serem compreendidas. Contudo, no meu entendimento – dentro daquilo que pode ser racionalmente compreendido em nosso nível de conhecimento – há duas causas principais:

  1. A elevação do status do médium de instrumento a serviço da espiritualidade para agente da espiritualidade;
  2.  A necessidade de controle e eventuais interferências do médium no processo mediúnico.

O médium agente da espiritualidade, mais que instrumento a ser utilizado pelos Espíritos Guias, é espirito em evolução, responsável por seus atos e pelos atos daqueles que se manifestam através de sua condição mediúnica.

Há um entendimento de que responsabilidades e méritos são compartilhados, os espíritos Guias não estão no comando, mas ao lado. Desta maneira, se alguma “entidade” sugerir que se prejudique alguém em benefício de outrem, caberá ao médium “interferir”, impedindo a “entidade” de manifestar-se e buscar as origens deste desequilíbrio, que pode ser da entidade ou uma manifestação de um mistificador (espíritos que se fazem passar por espíritos Guias enganando o médium, o consulente e mesmo os demais espíritos da casa).

Ao tomar em suas mãos as rédeas de sua espiritualidade, o médium deixa de ser “cavalo”. Ao aceitar a responsabilidade e o controle pelas ações daqueles que se manifestam através dele, o médium deixa de ser mero “aparelho” e passa a ser mediador, parceiro dos espíritos, enfim, MÉDIUM.


O Mito do Médium Ignorante

Desenvolveu-se ao longo da breve história umbandista a ideia equivocada de que o médium não necessita de estudo e conhecimento, pois quem realiza o trabalho são os Guias e, há mesmo quem acredite que o conhecimento pode atrapalhar, fazendo com que o médium interfira ou ainda confundindo-o.

É fato que os Guias realizarão seu trabalho ainda que seu médium nada compreenda do que está sendo feito, mas é equivocado acreditar que o conhecimento poderá atrapalhar a realização das tarefas.

O que muitos desconhecem é que os Guias utilizam-se dos recursos do médium para trabalhar, seus corpos, sua energia, seu poder mental e mesmo seu vocabulário.

O médium que conhece o funcionamento dos chacras e a circulação das energias em seus corpos, tem condições de elaborar uma rotina de meditações e práticas que visem tornar o “aparelho” mediúnico mais qualificado ao serviço que se destina.

O conhecimento acerca das conexões e energias movimentadas nos trabalhos junto aos pontos de força na natureza, bem como nas oferendas realizadas anualmente aos Guias, criará condições de uma conexão mais intensa entre médium e Guias e fortalecerá estes últimos durante um ano inteiro de trabalhos.

O conhecimento acerca dos diferentes processos obsessivos, as maneiras como se estabelecem, seus graus de complexidade e relações que se estabelecem, permitirá ao médium manter-se vigilante em sua própria vida e dos que o cercam, com ações preventivas e defensivas em relação a espíritos potencialmente prejudiciais e causadores de desequilíbrios.

O conhecimento acerca dos significados por detrás da ritualística dos trabalhos preencherá de sentido gestos vazios repetidos cotidianamente pelos médiuns, muitas vezes desconcentrados enquanto realizam alta magia de maneira mecânica.

O conhecimento acerca da realidade espiritual, suas hierarquias, as diferentes dimensões, os Tronos Divinos e suas irradiações verticais e horizontais, ascensão espiritual e evolução, queda vibratória, aprisionamentos emocionais, etc., são necessárias não somente ao desenvolvimento espiritual do indivíduo médium, como dos consulentes, dos curiosos que buscam informações acerca da Umbanda e do universo espiritual, e estas informações poderão ser utilizadas por seus Guias de consulta para explicar com clareza aos consulentes quando isto se fizer necessário, visto que é mais fácil elaborar conceitos previamente construídos na mente de seus médiuns, com vocabulário que estes possuam.

Aqui adentramos outro ponto fundamental e que se desdobra em muitos outros: O desenvolvimento da religião Umbanda no que diz respeito à formação de seus fiéis.


 Umbanda – Assistência e assistencialismo

Uma religião não se sustenta apenas no serviço prestado, por mais útil e necessário que este seja. É preciso oferecer respostas para as perguntas de sempre: de onde viemos, para onde vamos, quem é Deus, quem são os espíritos, que comportamento é o mais adequado, quais os valores morais mais elevados, por que é assim, por que é assado, o que significa isto e aquilo, etc.

Nem sempre estas perguntas serão formuladas pelos frequentadores das terreiras, então é necessário que se crie uma maneira de respondê-las mesmo assim, visto que são fundamentais à construção do saber que desenvolverá a Umbanda em seu crescimento. Mas, quando estas perguntas forem feitas a qualquer membro da corrente mediúnica, será conveniente que ele saiba esclarecer as dúvidas de quem procura respostas na Umbanda.

Convém ainda mencionar que muito do trabalho assistencialista realizado na Umbanda, é improdutivo, mero paliativo, por falta de instruções adequadas que deveriam ser transmitidas ao atendido. 

Situações obsessivas reincidentes – por exemplo – necessitam, muitas vezes, transformação nos hábitos da “vítima” que, com seus pensamentos e atitudes cria condições adequadas à aproximação de espíritos obsessores. Se estas pessoas não são orientadas na direção da reforma íntima, modificando seus valores morais e consequentemente seus hábitos, seguirão frequentando sessões de demanda durante toda sua encarnação e ao sair das sessões, espíritos análogos (quando não os mesmos) aos que foram “retirados” tornarão a se aproximar, em um circulo vicioso que resultará em pouca ou nenhuma eficácia do tratamento.

É como o médico que informa seu paciente que este deverá, além de seguir determinado tratamento, mudar seus hábitos alimentares, realizar (ou deixar de) determinados exercícios, etc. A parte estas informações individuais direcionadas a cada paciente, há orientações gerais que são transmitidas a todos, como os malefícios do fumo, da bebida e da gordura em excesso, e outras informações pertinentes transmitidas através de campanhas específicas.

Também assim devem proceder médiuns, dirigentes e os Guias de Umbanda, informando, orientando os fiéis da Umbanda acerca de seus questionamentos metafísicos, bem como fornecendo valores morais que os conduzam a uma conduta mais equilibrada em suas vidas. E isto só poderá ser feito se médiuns e dirigentes possuírem o conhecimento em questão, o que não costuma ser observado na maioria das terreiras.


A Umbanda do futuro

A Umbanda não está pronta, pouco ou nada do que é praticado atualmente permanecerá da maneira como está. A realidade física e espiritual muda, a Umbanda precisa mudar junto, e assim tem sido, ainda que aqueles que permanecem isolados dentro de suas terreiras não percebam.

Em muitos locais a Umbanda está realizando experimentações, unindo conhecimentos variados à prática da Umbanda, ampliando e aprimorando assim o atendimento oferecido. Muitas destas casas sequer adotam o nome de terreiras de Umbanda, embora grande parte da ritualística seja a mesma. Isso se deve ao patrulhamento por parte de umbandistas conservadores que buscam desqualificar o que está além de sua compreensão, determinando que a única Umbanda é aquela que lhes ensinaram.

Listo aqui algumas práticas que observei em diferentes locais e que, se mostraram eficientes em seus objetivos:

  • ü  Técnicas de Apometria para o tratamento de obsessões complexas: aumentam significativamente o alcance dos trabalhos de demanda, bem como sua eficácia.
  • ü  Linhas de trabalho oriundas de outras manifestações religiosas: podem somar-se harmoniosamente aos trabalhos praticados nas terreiras, ampliando-os, como Médicos espíritas, Povo Cigano, Caboclos Boiadeiros e Marinheiros, Exús, etc.
  • ü  Bibliotecas e grupos de estudo: orientados pelos Guias espirituais conduzem o aprendizado e a discussão acerca do universo espiritual de forma dirigida e pragmática, formando médiuns e seres humanos mais conscientes dos papéis que representam.
  • ü  Terapias exotéricas que envolvam manipulação energética e/ou promovam o autoconhecimento: são excelentes complementos aos trabalhos que visam harmonizar os diferentes campos vibratórios das pessoas atendidas. Reiki, Acupuntura, Cromoterapia, Numerologia Aristotélica, Cristaloterapia, Massoterapia, etc.
  • ü  Manter registro por escrito das regras, práticas e rituais realizados na terreira, bem como seus significados ocultos: auxiliam a construir o saber coletivo de Umbanda e facilitam na troca de experiências e teorias com outras terreiras.
  • ü  Palestras antes do início dos trabalhos: Instrui os frequentadores acerca dos valores morais a serem observados pelos fiéis de Umbanda, do funcionamento da casa e sobre quem são e o que realizam os espíritos que ali se manifestam.
  • ü  Cursos de desenvolvimento mediúnico prático e teórico: formam médiuns completos, capazes tanto de realizar os diferentes trabalhos quanto de orientar os fiéis sobre a realidade espiritual e o universo da Umbanda.

Não pensem os dirigentes, caciques, comandantes – ou como quer que sejam nomeados em suas terreiras – que estou desmerecendo o belo e importante trabalho ao qual dedicaram sua existência, pois não estou. Foi este trabalho que conduziu a Umbanda até o presente e, será a partir dele que seguiremos adiante, em direção ao futuro.

Aqueles que porventura estejam se questionando acerca do autor deste texto e suas credenciais, informo que não as possuo, mas penso que se trata aqui de algo irrelevante, pois pouco importa quem eu sou – ou quem eu penso que sou para ensinar o padre a rezar missa – e sim as ideias que manifesto. Da mesma maneira, sintam-se a vontade para concordar ou discordar, para manifestar suas opiniões e suas ideias, mas adianto que assim como não apresento credenciais, não me interesso pelas suas. Pouca – ou nenhuma - importância tem neste humilde blog seu currículo, experiência e tempo de serviços prestados a espiritualidade, ao contrário das suas ideias, que são extremamente bem vindas e de suma importância, para o blog e para o futuro da Umbanda.

Saravá!

17 de fev. de 2012

Espíritos de Umbanda - O que nos dizem seus nomes



Os espíritos que se manifestam nos terreiros de Umbanda, não são divindades idealizadas e perfeitas, não são Anjos, Arcanjos, não são Orixás, são simplesmente humanos, em sua grandeza e sua simplicidade.

Humanos, com seus erros e acertos, com seus caminhos tortuosos, com suas histórias de vida tão pessoais e únicas, e ao mesmo tempo tão parecidas com as nossas próprias histórias.

Estes homens e mulheres, guerreiros, mães, anciãos e crianças (arquétipos das diferentes fases do desenvolvimento humano), tiveram a mesma origem que tivemos e, compartilham também um destino comum: do Pai vieram e ao Pai retornaram.
No início de suas existências, foram atraídos naturalmente para uma das 7 qualidades manifestas do Pai, e lá se desenvolveram, sob tutela Deste que se multiplicou para fazer-se presente em todos os aspectos da vida.

Na adolescência existencial estagiaram pelas outras 6 qualidades Divinas e então se humanizaram, para seguir seu aprendizado na dualidade da dimensão humana.

Muitos séculos depois, após inúmeras encarnações, ascensões e quedas vibratórias, erros e acertos e, principalmente, muito aprendizado, foram religados à Qualidade Ancestral Original em que foram iniciados na infância da existência e, adquiriram com mérito o direito de ostentar esta qualidade em seus nomes simbólicos com os quais se apresentam nos terreiros de Umbanda.

São 7 as qualidades manifestas do Pai e, quando estas irradiações divinas adentram a dimensão humana, individualizam-se em dois polos [(+) positivo e (–) negativo] e dão origem aos Orixás.

As 7 qualidades manifestas do Pai são:

A FÉ, cujo polo positivo individualizou-se em Oxalá [(+) Essência Cristalina] Orixá masculino que irradia a Religiosidade e estimula a Fé, e que tem em seu polo negativo Oyá-Tempo [(-) Essência Cristalina] Orixá feminino que atrai para si aqueles que se desequilibram na Fé.

O AMOR, cujo polo positivo individualizou-se em Oxum [(+) Essência Mineral] Orixá feminino que irradia o Amor e estimula a Concepção, e que tem em seu polo negativo Oxumaré [(-) Essência Cristalina] Orixá masculino que paralisa a sexualidade e dilui vícios sexuais.

O CONHECIMENTO, cujo polo positivo individualizou-se em Oxóssi [(+) Essência Vegetal] Orixá masculino que expande o Conhecimento e estimula o Raciocínio, e que tem em seu polo negativo Obá [(-) Essência Telúrica] Orixá feminino que concentra as buscas e aquieta o raciocínio.

A JUSTIÇA, cujo polo positivo individualizou-se em Xangô [(+) Essência Ígnea] Orixá masculino que irradia a Justiça e estimula a Razão, e que tem em seu polo negativo Iansã [(-) Essência Eólica] Orixá feminino que paralisa as injustiças e dilui os acúmulos emocionais.

A LEI, cujo polo positivo individualizou-se em Ogum [(+) Essência Eólica] Orixá masculino que irradia a Lei e estimula a Ordem, e que tem em seu polo negativo Egunitá [(-) Essência Ígnea] Orixá feminino que consome excessos (vícios) e paralisa desordens emocionais.

A EVOLUÇÂO, cujo polo positivo individualizou-se em Obaluaiê [(+) Essência Telúrica] Orixá masculino que irradia o Saber e estimula a Evolução, e que tem em seu polo negativo Nanã [(-) Essência aquática] Orixá feminino que decanta os excessos (vícios) e concentra os seres.

A GERAÇÂO, cujo polo positivo individualizou-se em Iemanjá [(+) Essência Aquática] Orixá feminino que irradia a Criatividade e estimula a Geração, e que tem em seu polo negativo Omulu [(-) Essência Telúrica] Orixá masculino que paralisa e esgota o criativismo e a geração viciada.

Eis uma explicação simplista e resumida para um assunto amplo e complexo, explanado aqui apenas com a intenção de ilustrar origens e destinos, bem como estágios.

Como já foi mencionado, no inicio de nossas existências somos atraídos naturalmente para uma das Qualidades manifestas do Pai, já individualizadas em polos (+ -). Daí termos uma relação ancestral e eterna com o Orixá regente da polaridade, recebemos suas irradiações, em maior e menor intensidade, ao longo de toda nossa existência e a Ele(a) retornamos em algum momento, à exemplo dos espíritos que se manifestam na Umbanda.

Durante as experiências na carne (e mesmo fora dela) somos conduzidos a estágios sob a irradiação de outros orixás, irradiadores/concentradores de outras qualidades, afim de que possamos evoluir nos 7 sentidos da existência.

Em um determinado momento de nossos aprendizados, podemos considerarmo-nos graduados em certo nível educacional e, somos naturalmente religados ao nosso Orixá ancestral, levando na bagagem o conhecimento e os títulos adquiridos nos estágios junto aos demais orixás.

Para entender o alcance destes “estágios” seria necessário compreender os cruzamentos vibratórios verticais e horizontais das irradiações divinas individualizadas, os Orixás Intermediários que surgem destes cruzamentos e que trazem características mistas, como Oxóssi do Conhecimento da Fé (Oxóssi/Oxalá) ou Ogum da Lei da Geração (Ogum/Iemanjá), etc.

Observando os espíritos que se manifestam nos terreiros de Umbanda, seus nomes simbólicos e seus pontos riscados e cantados, perceberemos que estes homens e mulheres, no início de suas existências (ainda antes da individualização masculino/feminino) foram naturalmente atraídos para um determinado Orixá manifestador de uma das 7 Qualidades Divinas ao qual foram religados após inúmeros estágios que resultaram em ascensão (espiritual) e evolução (conhecimento), sendo este o seu primeiro título, representado em seu nome simbólico, pontos, etc.

Perceberemos ainda, que em seu aprendizado, este espirito estagiou e criou laços com outros Orixás, manifestadores de outras Qualidades Divinas, sendo estes seus títulos secundários e, secundariamente retratados em seus nomes simbólicos e pontos, como Ogum Beira-Mar que mostra no nome simbólico uma relação ancestral com o Orixá Ogum e a Linha da Lei, e também com a Evolução (Obaluaiê = Terra = Beira) e com a Geração (Iemanjá = Água = Mar), sendo estes seus cruzamentos principais, mas podendo trazer ainda muitos outros em seu ponto riscado e ponto cantado.

Uma analogia mais “terrena” seria um profissional que cursou a faculdade de uma determinada matéria e que posteriormente cursou mestrado e doutorado em outras, mas que, para alcançar a condição de profissional capacitado e respeitado, fez ainda muitos cursos e atividades extracurriculares, podendo incluir estas ou não no título que ostenta ao lado do nome.

Os Caboclos que trazem o número 7 em seus nomes simbólicos, por exemplo, cujos pontos normalmente não fazem referência a nenhum outro orixá além de seu Orixá Ancestral, é porque tem seus estágios completos de forma homogênea nas 7 Qualidades e são irradiadores de todas, a partir da qualidade manifesta por seu Orixá Ancestral.

Exemplo:
  • Ø  Caboclo 7 Flechas
  • Ø  Orixá Ancestral: Oxóssi;
  • Ø  Qualidade Ancestral: Conhecimento;
  • Ø  Qualidades irradiadas através dos cruzamentos vibratórios:
ü  Conhecimento Religioso (Oxóssi/Oxalá);
ü  Conhecimento Genético (Oxóssi/Oxum);
ü  Conhecimento Puro (Oxóssi);
ü  Conhecimento da Justiça e do Equilíbrio (Oxóssi/Xangô);
ü  Conhecimento da Lei (Oxóssi/Ogum);
ü  Conhecimento da Evolução (Oxóssi/Obaluaiê);
ü  Conhecimento da Criatividade (Oxóssi/Iemanjá).


Como podemos perceber, os nomes simbólicos, pontos riscados e pontos cantados, com que se apresentam os espíritos que se manifestam nos terreiros de Umbanda, nos dizem muito acerca de suas histórias e características, bem como de nossas próprias histórias.

2 de fev. de 2012

Iemanjá - Orixá regente do polo positivo da linha da Geração

Iemanjá é o trono feminino da Geração e seu campo preferencial de atuação situa-se no amparo à maternidade.


O Trono Essencial da Geração assentado na Coroa Divina projeta-se e faz surgir, na Umbanda, a linha da Geração, em cujo polo magnético positivo está assentada a Orixá Natural Iemanjá e em cujo polo magnético negativo está assentado o Orixá Omulu.

Iemanjá, a nossa amada Mãe da Vida, é a água que vivifica, e o nosso pai Omulu é a terra que amolda os viventes.

Iemanjá rege sobre a geração e simboliza a maternidade, o amparo materno, a mãe propriamente. Ela se projeta e faz surgir sete polos magnéticos ocupados por sete Iemanjás, as regentes dos níveis vibratórios positivos e as aplicadoras de seus polos, todos positivos, pois Iemanjá não possui polos negativos.

Estas sete Iemanjás comandam incontáveis linhas de trabalho dentro da Umbanda. Suas Orixás intermediadoras estão espalhadas por todos os níveis vibratórios positivos, onde atuam como mães da “criação”, sempre estimulando nos seres os sentimentos maternais ou paternais.

  1. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá Cristalina ou da Geração da Fé. Ela surge no 1° nível vibratório e no 1° polo magnético formado pelo entrecruzamento da irradiação da Geração com a corrente eletromagnética Cristalina, regida por Oxalá (Orixá da Fé).
  2. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá Mineral ou Iemanjá do Arco-Íris do Amor e da Concepção. Ela surge no 2° polo magnético formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética mineral, regida por Oxum (Orixá do Amor e da Concepção).
  3. ° Iemanjá: é a Iemanjá Vegetal ou Iemanjá da Seiva do Conhecimento. Ela surge no 3° polo magnético formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética vegetal. Regida por Oxóssi (Orixá do Conhecimento).
  4. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá ígnea ou Iemanjá do Calor da Geração. Ela surge no 4° polo magnético formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética ígnea, regida por Xangô (Orixá da Justiça).
  5. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá do Ar ou Iemanjá da Geração da Ordem. Ela surge no 5° polo magnético formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética eólica, regida por Ogum (Orixá da Lei e da Ordem).
  6. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá da Evolução ou Iemanjá da Geração do Saber. Ela surge no 6° polo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética telúrica, regida por Obaluaiê (Orixá da Evolução).
  7. ° Iemanjá: é a Orixá Iemanjá da Criação ou Iemanjá da Geração. Ela surge a partir do 7° polo magnético, formado pelo entrecruzamento da corrente eletromagnética aquática, regida por Iemanjá (Orixá da Geração).


Aí temos a classificação e descrição das sete Orixás Iemanjás naturais intermediárias, as regentes dos sete níveis vibratórios da linha da Geração. Todas atuam em nível multidimensional e projetam-se até para a dimensão humana, onde têm muitas de suas filhas estagiando. Todas têm suas hierarquias de Orixás Iemanjás intermediadoras, que regem hierarquias de espíritos religados às hierarquias naturais.


Retirado do livro "Código de Umbanda" de Rubens Saraceni

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