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30 de jun. de 2012

Conhece-te a ti mesmo - Sócrates e a nossa relação com o mundo

por Josué Cândido da Silva



A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos.

De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa relação com os outros e com o mundo.

Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos, particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo.

Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francêsMichel Foucault (1926 - 1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si.

Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal como a fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de sujeito.

É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo.


Como ter Acesso a Verdade?

Tal modificação para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela exige, por vezes, determinadas renúncias e purificações, das quais Sócrates é um exemplo.

Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo, denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.

A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais de mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos.

A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.

Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes - e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência.


A Difícil Busca da Verdade

Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos.

Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios prometidos.

Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente, estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.

Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.

Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas, pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.
O Que Há Pra Ler?



  • Do filósofo Michel Foucault, a obra A hermenêutica do sujeito, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2004.

  • Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/conhece-te-a-ti-mesmo.jhtm

    27 de jun. de 2012

    A Dança dos Átomos - A Dança de Shiva




    A Água é fria e a Pedra é dura, enquanto o Ar é impalpável;
    O Fogo queima e as pernas doem, e a Estrada não tem fim.
    O Cientista sabe e o Sábio intui que tudo é feito da mesma matéria: Energia.
    O que se percebe externamente é fruto da ação interna.
    É a Dança dos átomos que determina se a Energia/matéria será mais densa ou mais sutil.
    E, é a Música que produzimos internamente que dita a velocidade da dança:
    Rápido = sutil, permeável, macio, + Energia – matéria;
    Lento = denso, sólido, duro, + matéria – energia.
    A Música é a Arte de fazer dançar os átomos na estrada infinita que é a evolução dos seres e das coisas.
    Os átomos da pedra não dançam e por isso ela é dura como pedra.
    As Sereias entoam cantigas de embalar as águas, as Fadas assoviam melodias no vento e as Salamandras são o ritmo das chamas.
    Na Terra os Gnomos fazem festas e de suas danças brotam as flores e as árvores ao longo da estrada.
    Os Anjos tocam um Jazz vertiginoso e dançam tão rápido que parecem ter asas.
    Os Animais são lentos e tropeçam em seus próprios pés.
    Aos Homens é permitido inventar a Música, bem como tropeçar em seus próprios pés.
    O pensamento generoso e solidário, a criatividade, a fé e o amor ao próximo produzem uma Música sutil que faz dançar os átomos e nos aproxima dos Anjos.
    Os instintos grosseiros, a raiva, a inveja, a competição e a preguiça mental não sabem fazer Música, e nos tornam mais densos, e nos fazem tropeçar em nossos próprios pés.
    Na Estrada evolutiva há Animais e Anjos, nos movemos de uns para outros ao ritmo da Música que soubermos criar.
    Criemos portanto a sutileza que fará nossos átomos dançarem num ritmo crescente acelerado, com movimentos suaves e precisos que nos tornem cada dia mais semelhantes aos Anjos e mais próximos do futuro, e deixemos para o passado nossos antepassados de pés preguiçosos.

    Diego Silva.

    24 de jun. de 2012

    Maledicência




    Maledicência é o ato de falar mal das pessoas.  Definição bem amena para um dos maiores flagelos da Humanidade.

    Mais terrivel do que uma agressão fisica.  Muito mais do que o corpo, fere a dignidade humana, conspurca reputações, destrói existências.

           Mais insidiosa do que uma epidemia, na forma de boato - eu "ouvi dizer" - alastra-se como rastilho de pólvora.  Mera visão pirotécnica em princípio:
           "Ele paga suas contas com atraso" ou "Ela sai muito de casa". 
           Depois, explosiva:
           "Ele é um ladrão!  " ou "Ela está traindo o marido!"

    Arma perigosa, está ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer idade, e é muito fácil usá-la: basta ter um pouco de maldade no coração.
    Tribunal corrupto, nele o réu está, invariavelmente, ausente.  É acusado, julgado e condenado, sem direito de defesa, sem contestação, sem misericórdia.
    Tão devastadora e, no entanto, não implica nenhum compromisso para quem a emprega.  Jamais encontraremos o autor de um boato maldoso, de uma "fofoca” comprometedora. O maledicente sempre "vende" o que "comprou".

    Ninguém está livre dela, nem mesmo os que se destacam na vida social pela sua capacidade de realização, no setor de suas atividades.  Estes, ao contrário, são os mais visados.  Nada mais gratificante para o maledicente do que mostrar que "fulano não é tão bom como se pensa"

    Não há agrupamento humano livre da maledicência. Está presente mesmo onde jamais deveria haver lugar para ela: em instituições inspiradas em ideais religiosos de serviço no campo do Bem.  Quando se manifeste nessas comunidades, infiltrando-se pela invigilância de companheiros desavisados, que se fazem agentes do Mal, é algo profundamente lamentável, provocando o afastamento de muitos servidores dedicados e aniquilando as mais promissoras esperanças de realização espiritual.

           Nem mesmo o Cristo, inspiração suprema desses ideais, esteve livre dela.  Exemplo tipico de seu poder infernal foi o comportamento da multidäo, que reverenciou Jesus na entrada triunfal, em Jerusalém; no entanto, poucos dias depois, instigada pela maledicência dos sacerdotes judeus, festejou sua crucificação, cercando a cruz de impropérios e zombarias.

           A maledicência tem sua origem, sem dúvida, no atraso moral da criatura humana.  Intelectualmente, a Humanidade atingiu culminâncias.  Chegamos à Lua, desintegramos o átomo. Moralmente, entretanto, somos subdesenvolvidos, quase tão agressivos e inconseqüentes como os habitantes das cavernas, e, se o verniz de civilidade nos impede de usar a clava, usamos a língua, atendendo a propósitos de auto-afirmação, revide, justificação ou pelo simples prazer de atirar pedras ein vidraças alheias.

          Não se dá conta aquele que se compraz em criticar a vida alheia, que a maledicência é um ato de autofagia (condição do animal que se nutre da própria substância, que come o próprio corpo). O maledicente pratica a autofagia moral.  A má palavra, o comentário desairoso contra alguém geram, no autor, um clima de desajuste íntimo, em que ele perde força psíquica e se autodestrói moralmente, envenenando-se com a própria maldade.  Por isso, pessoas que se comprazem nesse tipo de comportamento são sempre inquietas e infelizes.

          Jesus adverte que o maldizente fatalmente será vítima da maledicência, quer porque onde estiver criará ambiente propício à disseminação de seu veneno, quer porque a Vida o situará, inelutavelmente, numa posição que o sujeitará a críticas e comentários desairosos, a fim de que aprenda a respeitar o próximo.

           Deixando bem claro que a ninguém compete o direito de julgar, o Mestre recomenda que, antes de procurarmos ciscos no olho de nosso irrnäo, tratemos de remover a lasca de madeira que repousa, tranquila, no nosso.  Se possuímos incontáveis defeitos, se há tantas tendências inferiores em nossa personalidade, por que o atrevimento de criticar o comportamento alheio?

           E há os estudos de Psicologia que oferecem uma dimensão bem maior ao ensinamento evangélico.  Admitem hoje os psicólogos que tendemos a identificar com facilidade nos outros o que existe em abundância em nós. O mal que vemos em outrem é algo do mal que mora em nosso coração.  Por isso, as pessoas virtuosas, de sentimentos nobres, são incapazes de enxergar maldade no próximo.

           É preciso, portanto, treinar a capacidade de enxergar o que as pessoas teem de bom, para que o Bem cresça em nós. O primeiro passo, dificil mas indispensável, é "minar a maledicência.  Um recurso valioso para isso é usar os três crivos, segundo velha lenda de origem desconhecida, que vários escritores atribuem a Sócrates, lembrada pelo Espírito Irmão X,psicografia de Francisco Cândido Xavier, em mensagem publicada pela revista "Reformador", no mês de junho de 1970:


    "Certa feita, um homem esbaforido achegou-se ao grande filósofo e sussurrou-lhe aos ouvidos:
    - Escuta, Sócrates... Na condição de teu amigo, tenho alguma coisa de muito grave para dizer-te, em particular...
    - Espera!... - ajuntou o sábio, prudente. Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
    - Três crivos? - perguntou o visitante, espantado.
    - Sim, meu caro, três crivos.  Observemos se a tua confidência passou por eles. O primeiro é o crivo da verdade.  Guardas absoluta certeza quanto aquilo que me pretendes comunicar?
    - Bem - ponderou o interlocutor -, assegurar, mesmo, não posso... Mas, ouvi dizer e...então...
    - Exato.  Decerto peneiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade.  Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar?
    Hesitando, o homem replicou:
            - Isso não ... Muito pelo contrário...
       - Ah! - tornou o sábio - então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que tanto te aflige.
    - Útil?!... - aduziu o visitante ainda mais agitado. - útil não é...
    -  Bem - rematou o filósofo num sorriso -, se o que me tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que de nada valem casos sem qualquer edificação para nós. . . "




    Referências bibliográficas:
    Richard Simonetti – A voz do monte
    link para artigo original: http://www.spiritismo.de/Maledicencia.htm

    João Batista e a Linha do Oriente na Umbanda


    Hoje é dia de São João Batista, às vezes sincretizado como Xangô e que representa uma das linhas de trabalho da Umbanda: A Linha do Oriente.

    Não pretendemos abordar aqui as questões sincréticas, responsáveis por inúmeras confusões acerca da identificação de santos católicos e Orixás. Contudo, afirmamos que a falange de João Batista atua sob a irradiação do Trono do Amor, regido em seu polo positivo pela Orixá Oxum e em seu polo negativo pelo Orixá Oxumaré.

    Nesta falange manifestam-se alguns dos mais sábios e evoluídos espíritos da Umbanda, são  pacíficos e tranquilos, emanam paz, amor e sabedoria e estão desde remotas eras ligados à Magia de Cura e aos grupos herméticos, ao sacerdócio e à caridade.

    O principal expoente deste segmento foi sem dúvida o Mestre Jesus, que praticava a cura através da imposição de mãos e cuja história oculta pode ser lida no livro O Caminho dos Essênios, aqui no blog.

    A pluralidade umbandista que reúne africanos, índios, Orixás e Santos, tem sua diversidade étnica ricamente ilustrada na falange de João Batista ou Linha do Oriente, que traz para o convívio nos templos umbandistas antigos sacerdotes hindus, egípcios, chineses, japoneses, mongóis, árabes, marroquinos, beduínos, etc., além de médicos europeus.

    Muitas terapias ditas alternativas tem sua origem nos grupos étnicos que compõem a numerosa falange de João Batista, como o Reiki, a Cromoterapia, a Cristaloterapia, etc. E, não raro podemos observar estes “Guias” utilizando-as em seus trabalhos, combinadas com a sabedoria das coisas da natureza pois, conhecendo as propriedades das plantas de onde derivam as substâncias que dão origem aos medicamentos alopáticos e homeopáticos, recomendam seu uso “in natura” através de compressas, infusões e chás.

    Reservamos para este dia um artigo científico-espiritual que busca traçar paralelos entre os médicos da Umbanda e a biomedicina, a partir de um ponto de vista não religioso, o que sempre nos interessa mostrar aqui no blog.

    Ainda que aparentemente confuso para os umbandistas, o artigo em questão soa deveras interessante sob o ponto de vista sociológico, ao traçar um mapa das relações da medicina umbandista com a medicina ortodoxa.





    A expansão da biomedicina pelo mundo deu origem a várias formas de ajustamento com sistemas terapêuticos alheios que, também, propõem suas leituras da doença e suas respostas à infelicidade biológica. A autora examina a relação da umbanda- religião com dimensão terapêutica afirmada - com a biomedicina, a partir de dados de campo recolhidos desde 1987 em vários terreiros da cidade e do Estado de São Paulo. A relação é considerada sob dois ângulos: um que questiona o posicionamento da religião frente à biomedicina, e o outro que se interessa na interiorização pela umbanda de elementos significativos do universo biomédico.



    MÉDICOS DO ASTRAL E MÉDICOS DA TERRA. AS RELAÇÕES DA UMBANDA COM A BIOMEDICINA - Armelle Giglio-facquemot

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