Este artigo foi dividido em três partes bem distintas...
Na PARTE
I me dediquei a
justificar o título, afirmando que talvez o “padre” não esteja “rezando a missa”
de maneira satisfatória.
Na PARTE
II explico os 7
Raios que surgem em Deus e que orientam a existência nos 7 Sentidos Divinos, e
deixo uma pergunta retórica: Será que as religiões que conhecemos estão
cumprindo sua tarefa de estimular a evolução humana nos 7 Sentidos Divinos?
Nesta terceira e última parte, pretendo finalmente alcançar
o objetivo descrito no título e, efetivamente, sugerir ao “padre” novas
maneiras de “rezar a missa”. Contudo, minhas sugestões não são dirigidas aos
padres, nem pretendo falar sobre a missa tradicional, mas da Umbanda, uma religião genuinamente brasileira, ainda
muito jovem e promissora e de caráter universalista.
Este artigo é portanto dirigido aos médiuns e dirigentes de
Umbanda.
A Umbanda, surgida na
mistura entre as religiões de origem africana com o Adjunto de Juremá praticado
pelos nossos índios, recebendo influência católica (sincretismo) e posteriormente
também kardecista, existe no plano material há pouco mais de um século, tempo
relativamente curto, se comparada a outras religiões.
Hoje, quando
olhamos para as religiões, elas nos parecem completamente resolvidas (e
estagnadas) com seus dogmas e livros de regras, mas nem sempre foi assim. A
Bíblia, livro sagrado que serve de fundamento a tantas religiões cristãs,
demorou quase 2 séculos sendo escrita e outros tantos sendo discutida, antes
de ter sua versão “final” que conhecemos.
A Umbanda é hoje
uma religião promissora em sua prática simples e objetiva, em sua
universalidade e multidisciplinaridade, mas – ao contrário do que acreditam
muitos dirigentes – não é uma religião pronta.
Particularmente
acho ótimo que assim seja, temos a oportunidade – e a responsabilidade – de
construir a Umbanda que permanecerá, não lidamos com nenhuma estrutura rígida e
estagnada imposta de cima para baixo por clérigos com intenções politicas e/ou
mercantilistas. A Umbanda que hora existe é aquela que fazemos existir no
trabalho cotidiano das terreiras e, a Umbanda que existirá será aquela que
construiremos no decorrer das próximas décadas (ou séculos) de prática
umbandista.
Não convém elencar
neste pequeno artigo as circunstâncias que motivaram o surgimento da Umbanda e
tampouco as diferentes circunstâncias que justificaram algumas tendências
adotadas na prática cotidiana. O passado é uma estrada que nos conduziu até o
presente, e é no presente que devemos construir a estrada que nos conduzirá ao
futuro e ao futuro da Umbanda.
Retomo aqui o
título desta série de artigos: ENSINANDO
O PADRE A REZAR MISSA, porque disto consistirão as linhas seguintes,
apontar práticas e mitos que surgiram no passado umbandista e que – no meu
entendimento – devem ser modificados na construção do futuro.
O Mito do Médium
Cavalo
Não se trata aqui
apenas do aspecto ofensivo existente na maneira como os médiuns são nomeados
(até mesmo pelos guias) nas terreiras de Umbanda, mas dos conceitos por detrás
destas nomenclaturas.
O que é um cavalo?
O cavalo é um
animal irracional que pode ser adestrado para servir ao homem, transportando-o
e deixando-se conduzir por este. Um “cavalo” bem adestrado – à exemplo de um
médium bem treinado – é aquele que aceita a condução do cavaleiro sem impor
resistência, dócil e obediente.
Outra maneira de
nomear os médiuns é Aparelho.
Um aparelho é pouco
mais que uma ferramenta, diria uma ferramenta complexa, com alguma tecnologia,
que requer certo conhecimento para ser manipulada, mas ainda uma ferramenta.
Cavalo e Aparelho
são elementos sem vontade própria e ilustram um padrão adotado pela mediunidade
ao longo da história, a mediunidade inconsciente (chamada também incorporação
“lisa”, sem interferência). Foi útil durante muito tempo, quando as religiões
espiritistas careciam de credibilidade e pequenas proezas mediúnicas se
prestavam a impressionar a plateia e atestar a veracidade do processo de
incorporação.
A ingestão de
alimentos, líquidos e objetos, inadequados ao consumo humano, – sem deixar
resquícios no médium - bem como a manipulação de elementos como o fogo, só eram
possíveis em incorporações inconscientes e, foram necessárias durante o período
em que estas religiões estavam se consolidando. Atualmente estas práticas não
são mais necessárias, e os próprios guias espirituais manifestam-se mais
sutilmente, sem tomar por completo a consciência do médium.
Se o médium já não
é mais um elemento desprovido de vontade, não é mais cavalo e tampouco
aparelho, mas MÉDIUM: Mediador, agente intermediador da comunicação entre
diferentes dimensões da vida.
- Por que motivos a
mediunidade transformou-se de “inconsciente” em “consciente”?
Há muitas causas
prováveis, dentre estas, alterações na realidade energética/espiritual do
planeta, que demandam estudos mais profundos para serem compreendidas. Contudo,
no meu entendimento – dentro daquilo que pode ser racionalmente compreendido em
nosso nível de conhecimento – há duas causas principais:
- A elevação do status do médium de instrumento a serviço da espiritualidade para agente da espiritualidade;
- A necessidade de controle e eventuais interferências do médium no processo mediúnico.
O médium agente da espiritualidade, mais que instrumento a ser utilizado pelos Espíritos Guias, é espirito em evolução, responsável por seus atos e pelos atos daqueles que se manifestam através de sua condição mediúnica.
Há um entendimento
de que responsabilidades e méritos são compartilhados, os espíritos Guias não
estão no comando, mas ao lado. Desta maneira, se alguma “entidade” sugerir que
se prejudique alguém em benefício de outrem, caberá ao médium “interferir”,
impedindo a “entidade” de manifestar-se e buscar as origens deste
desequilíbrio, que pode ser da entidade ou uma manifestação de um mistificador
(espíritos que se fazem passar por espíritos Guias enganando o médium, o
consulente e mesmo os demais espíritos da casa).
Ao tomar em suas
mãos as rédeas de sua espiritualidade, o médium deixa de ser “cavalo”. Ao
aceitar a responsabilidade e o controle pelas ações daqueles que se manifestam
através dele, o médium deixa de ser mero “aparelho” e passa a ser mediador,
parceiro dos espíritos, enfim, MÉDIUM.
O Mito do Médium Ignorante
Desenvolveu-se ao
longo da breve história umbandista a ideia equivocada de que o médium não
necessita de estudo e conhecimento, pois quem realiza o trabalho são os Guias
e, há mesmo quem acredite que o conhecimento pode atrapalhar, fazendo com que o
médium interfira ou ainda confundindo-o.
É fato que os Guias
realizarão seu trabalho ainda que seu médium nada compreenda do que está sendo
feito, mas é equivocado acreditar que o conhecimento poderá atrapalhar a
realização das tarefas.
O que muitos
desconhecem é que os Guias utilizam-se dos recursos do médium para trabalhar,
seus corpos, sua energia, seu poder mental e mesmo seu vocabulário.
O médium que
conhece o funcionamento dos chacras e a circulação das energias em seus corpos,
tem condições de elaborar uma rotina de meditações e práticas que visem tornar
o “aparelho” mediúnico mais qualificado ao serviço que se destina.
O conhecimento
acerca das conexões e energias movimentadas nos trabalhos junto aos pontos de
força na natureza, bem como nas oferendas realizadas anualmente aos Guias,
criará condições de uma conexão mais intensa entre médium e Guias e fortalecerá
estes últimos durante um ano inteiro de trabalhos.
O conhecimento
acerca dos diferentes processos obsessivos, as maneiras como se estabelecem,
seus graus de complexidade e relações que se estabelecem, permitirá ao médium
manter-se vigilante em sua própria vida e dos que o cercam, com ações
preventivas e defensivas em relação a espíritos potencialmente prejudiciais e
causadores de desequilíbrios.
O conhecimento
acerca dos significados por detrás da ritualística dos trabalhos preencherá de
sentido gestos vazios repetidos cotidianamente pelos médiuns, muitas vezes
desconcentrados enquanto realizam alta magia de maneira mecânica.
O conhecimento
acerca da realidade espiritual, suas hierarquias, as diferentes dimensões, os
Tronos Divinos e suas irradiações verticais e horizontais, ascensão espiritual
e evolução, queda vibratória, aprisionamentos emocionais, etc., são necessárias
não somente ao desenvolvimento espiritual do indivíduo médium, como dos
consulentes, dos curiosos que buscam informações acerca da Umbanda e do
universo espiritual, e estas informações poderão ser utilizadas por seus Guias
de consulta para explicar com clareza aos consulentes quando isto se fizer
necessário, visto que é mais fácil elaborar conceitos previamente construídos
na mente de seus médiuns, com vocabulário que estes possuam.
Aqui adentramos outro ponto fundamental e que se desdobra em muitos outros: O desenvolvimento
da religião Umbanda no que diz respeito à formação de seus fiéis.
Umbanda –
Assistência e assistencialismo
Uma religião não se
sustenta apenas no serviço prestado, por mais útil e necessário que este seja.
É preciso oferecer respostas para as perguntas de sempre: de onde viemos, para
onde vamos, quem é Deus, quem são os espíritos, que comportamento é o mais
adequado, quais os valores morais mais elevados, por que é assim, por que é
assado, o que significa isto e aquilo, etc.
Nem sempre estas
perguntas serão formuladas pelos frequentadores das terreiras, então é
necessário que se crie uma maneira de respondê-las mesmo assim, visto que são
fundamentais à construção do saber que desenvolverá a Umbanda em seu
crescimento. Mas, quando estas perguntas forem feitas a qualquer membro da
corrente mediúnica, será conveniente que ele saiba esclarecer as dúvidas de
quem procura respostas na Umbanda.
Convém ainda
mencionar que muito do trabalho assistencialista realizado na Umbanda, é
improdutivo, mero paliativo, por falta de instruções adequadas que deveriam ser
transmitidas ao atendido.
Situações obsessivas reincidentes – por exemplo –
necessitam, muitas vezes, transformação nos hábitos da “vítima” que, com seus
pensamentos e atitudes cria condições adequadas à aproximação de espíritos
obsessores. Se estas pessoas não são orientadas na direção da reforma íntima,
modificando seus valores morais e consequentemente seus hábitos, seguirão
frequentando sessões de demanda durante toda sua encarnação e ao sair das
sessões, espíritos análogos (quando não os mesmos) aos que foram “retirados”
tornarão a se aproximar, em um circulo vicioso que resultará em pouca ou
nenhuma eficácia do tratamento.
É como o médico que
informa seu paciente que este deverá, além de seguir determinado tratamento,
mudar seus hábitos alimentares, realizar (ou deixar de) determinados
exercícios, etc. A parte estas informações individuais direcionadas a cada
paciente, há orientações gerais que são transmitidas a todos, como os
malefícios do fumo, da bebida e da gordura em excesso, e outras informações
pertinentes transmitidas através de campanhas específicas.
Também assim devem
proceder médiuns, dirigentes e os Guias de Umbanda, informando, orientando os
fiéis da Umbanda acerca de seus questionamentos metafísicos, bem como
fornecendo valores morais que os conduzam a uma conduta mais equilibrada em
suas vidas. E isto só poderá ser feito se médiuns e dirigentes possuírem o
conhecimento em questão, o que não costuma ser observado na maioria das
terreiras.
A Umbanda do futuro
A Umbanda não está
pronta, pouco ou nada do que é praticado atualmente permanecerá da maneira como
está. A realidade física e espiritual muda, a Umbanda precisa mudar junto, e
assim tem sido, ainda que aqueles que permanecem isolados dentro de suas
terreiras não percebam.
Em muitos locais a
Umbanda está realizando experimentações, unindo conhecimentos variados à
prática da Umbanda, ampliando e aprimorando assim o atendimento oferecido.
Muitas destas casas sequer adotam o nome de terreiras de Umbanda, embora grande
parte da ritualística seja a mesma. Isso se deve ao patrulhamento por parte de
umbandistas conservadores que buscam desqualificar o que está além de sua
compreensão, determinando que a única Umbanda é aquela que lhes ensinaram.
Listo aqui algumas
práticas que observei em diferentes locais e que, se mostraram eficientes em
seus objetivos:
- ü Técnicas de Apometria para o tratamento de obsessões complexas: aumentam significativamente o alcance dos trabalhos de demanda, bem como sua eficácia.
- ü Linhas de trabalho oriundas de outras manifestações religiosas: podem somar-se harmoniosamente aos trabalhos praticados nas terreiras, ampliando-os, como Médicos espíritas, Povo Cigano, Caboclos Boiadeiros e Marinheiros, Exús, etc.
- ü Bibliotecas e grupos de estudo: orientados pelos Guias espirituais conduzem o aprendizado e a discussão acerca do universo espiritual de forma dirigida e pragmática, formando médiuns e seres humanos mais conscientes dos papéis que representam.
- ü Terapias exotéricas que envolvam manipulação energética e/ou promovam o autoconhecimento: são excelentes complementos aos trabalhos que visam harmonizar os diferentes campos vibratórios das pessoas atendidas. Reiki, Acupuntura, Cromoterapia, Numerologia Aristotélica, Cristaloterapia, Massoterapia, etc.
- ü Manter registro por escrito das regras, práticas e rituais realizados na terreira, bem como seus significados ocultos: auxiliam a construir o saber coletivo de Umbanda e facilitam na troca de experiências e teorias com outras terreiras.
- ü Palestras antes do início dos trabalhos: Instrui os frequentadores acerca dos valores morais a serem observados pelos fiéis de Umbanda, do funcionamento da casa e sobre quem são e o que realizam os espíritos que ali se manifestam.
- ü Cursos de desenvolvimento mediúnico prático e teórico: formam médiuns completos, capazes tanto de realizar os diferentes trabalhos quanto de orientar os fiéis sobre a realidade espiritual e o universo da Umbanda.
Não pensem os
dirigentes, caciques, comandantes – ou como quer que sejam nomeados em suas
terreiras – que estou desmerecendo o belo e importante trabalho ao qual dedicaram
sua existência, pois não estou. Foi este trabalho que conduziu a Umbanda até o
presente e, será a partir dele que seguiremos adiante, em direção ao futuro.
Aqueles que
porventura estejam se questionando acerca do autor deste texto e suas
credenciais, informo que não as possuo, mas penso que se trata aqui de algo
irrelevante, pois pouco importa quem eu sou – ou quem eu penso que sou para
ensinar o padre a rezar missa – e sim as ideias que manifesto. Da mesma
maneira, sintam-se a vontade para concordar ou discordar, para manifestar suas
opiniões e suas ideias, mas adianto que assim como não apresento credenciais,
não me interesso pelas suas. Pouca – ou nenhuma - importância tem neste humilde
blog seu currículo, experiência e tempo de serviços prestados a espiritualidade,
ao contrário das suas ideias, que são extremamente bem vindas e de suma importância,
para o blog e para o futuro da Umbanda.
Saravá!
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