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11 de set. de 2012

Quando a morte se avizinha de quem amamos...

[...]Eu vou rasgar meu coração pra costurar o teu.
"Acalanto" Edu Lobo - Chico Buarque/1985- Para a peça "O corsário do rei" de Augusto Boal

Minha mãe recebeu alta hoje, após uma semana no Instituto de Cardiologia. Foi conduzida para lá após um infarto que, se não fosse uma série de coincidências e a presença de um amigo da família que soube antever o perigo e tomar as medidas adequadas, poderia ter sido fatal.

Tudo correu bem, na medida do possível e, acredito ela teve o melhor e mais rápido atendimento que as “coincidências” poderiam providenciar. E, tudo pelo SUS.

Mas, não comecei este texto para falar de coincidências, mas de convicções e da morte.

Acompanhei por telefone cada passo de minha mãe antes de ser diagnosticada, este prestativo amigo que a acompanhava (o principal responsável pela série de coincidências positivas que lhe permitiram permanecer entre os vivos) me mantinha informado enquanto eu mantinha minha agenda de trabalho. De fato, estava jantando no Alfredo’s, alinhavando alguns pontos soltos após uma reunião.

Quando percebi a gravidade da situação, me despedi daqueles que me acompanhavam e tomei um taxi, e neste instante foi que considerei seriamente a hipótese de “perder” minha mãe.

Quem me conhece razoavelmente sabe que não há - nem houve - outra mulher a quem eu ame mais que minha mãe e, seria natural supor que a possibilidade de não mais tornar a conviver com ela me impactasse. Contudo, foram sentimentos confusos os que me envolveram naquele início de noite.

Percebi minha mente dominando o emocional, primeiro ordenando a frieza de aguardar os exames e o parecer médicos, mantendo-me calmo e sereno para tomar todas as medidas que por ventura se fizessem necessárias. Segundo, fazendo vir a tona a racionalidade de minhas crenças e convicções, a quem devo a coerência de permitir orientar meu comportamento e, quando possível, as minhas emoções.

Não creio em morte.

Para mim, morte e nascimento são momentos em tudo semelhantes e delicados, e ambos podem ser adiados, porém não convém que se adie indefinidamente.

A morte, assim como o nascimento, pode resultar em uma sequência difícil, de acordo com as possibilidades de cada um. Há em ambos uma continuidade que não somos capazes de perceber, uma consequência de atos que não recordamos, nem sempre apenas nossos.

Mas, cônscio dessa lógica e conhecedor da vida que minha mãe tem vivido, é natural para mim supor uma sequência agradável ao seu desencarne, representando este, mais um sucesso do espirito que um fracasso do corpo.

Assim, convencido de que morrer não seria uma possibilidade ruim, mantive uma calma aparente que poderia mesmo induzir ao equívoco àqueles que, sabedores da enfermidade de minha progenitora, viessem a supor nisso falta de amor ou preocupação.

Mas, o filho sofria por dentro, esteve frágil e a ponto de ser dominado por emoções contraditórias o tempo todo. Era o ego se manifestando, tentando controlar minha mente e fazer-me pensar em mim, conquanto o momento fosse dela.

Se o foco do pensamento virava, invariavelmente as emoções se apoderavam de mim. Eu poderia não mais ter comigo minha amada mãezinha. Eu sofreria muito com sua ausência. Eu perderia a oportunidade de seguir aprendendo com seu amor incondicional. Eu estava fragilizado.

Mas, Eu não deixei o pensamento se fixar em mim, e as emoções não dominaram meu espirito.
Não tenho como prever quem serão os leitores que este texto encontrará. E, portanto, desconheço suas crenças e convicções acerca do universo, da vida e da morte. Todavia, aqueles que compartilham crenças e convicções semelhantes às minhas, não choram seus entes queridos, mas a si mesmos.

No fim das contas, minha mãe está em casa e, ao menos por enquanto não há motivos para o pranto. Mas, se a vida seguir seu curso natural, ela deverá desencarnar antes de seus filhos. E, quando isso ocorrer, é muito provável que a emoção me domine.

Neste dia, serei pranteador, pranto e pranteado. Será por mim e pelos que ficam que minhas lágrimas correrão, porque eu conheço a natureza da morte, e sei que ela guarda poucas surpresas e nenhuma incoerência enquanto continuidade do que chamamos vida.

Estou feliz com o retorno de minha mãe ao lar, e meu espirito estará feliz quando ela não mais retornar, ainda que meu ego demonstre o contrário. 

7 de set. de 2012

Religião vs Espiritualidade




"Religião é para as pessoas que tem medo de ir para o inferno.
Espiritualidade é para aqueles que já estiveram lá."

Ainda que na vida foda da matéria os espíritos agrupem-se por afinidades e, dentre estas, filosofias e religiões, estas últimas existem efetivamente apenas no âmbito dos encarnados. 

Não queremos afirmar que as religiões não existem nas outras dimensões, afinal é lá que elas surgem e é apenas lá que elas existem em  seu estado puro, sem as distorções interpretativas dos que estão limitados pela carne. Contudo, nestes planos, as religiões não representam verdades excludentes entre si, ao contrário, são harmônicas e complementares e, as mesmas divindades que inspiram uma religião, inspiram outras, ainda que em cada uma sejam conhecidas diferentemente.

A religião surge nos planos superiores para os homens e pelos homens, não é intrínseca a estes planos ou a estes seres. Budistas, judeus, muçulmanos, umbandistas, católicos, protestantes, etc., fora da matéria cultuam as mesmas divindades e percebem-se como parte indissociável do indivisível. 

Todos os que cresceram e tornaram-se grandes, já foram pequenos e, muitos dos pequenos já foram grandes. Os que habitam a luz já estagiaram nas trevas e muitos dos que estão nas trevas já estiveram na luz. 

Para aqueles que compreendem a unidade da divindade que habitamos/somos, a religião não é mais que uma ferramenta: presta-se a fins específicos que, quando alcançados, deixa a ferramenta de ter utilidade.

E, para encerrar com uma expressão poética sugerida por um amigo, "SARAVÁMASTÊ" aos irmãos de jornada!

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