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16 de mai. de 2011

Tambores de Angola - Ângelo Inácio por Robson Pinheiro

 
 
tambores de angola
 

Tambores de Angola, de Ângelo Inácio e Robson Pinheiro, fala sobre Umbanda e Espiritismo, sobre Pretos Velhos e sobre obsessores, sobre encarnados, desencarnados e encarnações, entre outros tantos assuntos que permeiam as páginas deste delicioso livro de Ângelo Inácio.

O “morto-vivo metido a escritor e repórter do além”- auto definição do autor – narra com texto de jornalista (e dos bons) a história de Erasmino e seu obsessor, mas sabiamente nos brinda com grande quantidade de informações sobre a origem da Umbanda e das entidades que nela se manifestam, do trabalho realizado nas terreiras e de sua correspondência astral, bem como descreve com riqueza de detalhes os processos magísticos, suas estratégias e consequências.

Há ainda muito mais neste livro... A diferença entre Espiritismo e Umbanda, as consequências dos sacrifícios animais no Candomblé, reencarnação, obsessão simples e complexa, tudo isto nos é apresentado de forma diluída ao longo de uma história envolvente e plena de mistérios revelados.

Neste primeiro artigo sobre Tambores de Angola, pretendo abordar uma questão que julgo crucial no entendimento do processo evolutivo através da reencarnação, da lei do karma e do retorno e, principalmente, de como o ódio e o desejo de vingança transformam vítimas em algozes e vice-versa, num circulo vicioso de olho por olho que termina por cegar a todos e que só pode ser revertido através do perdão.

Se você pretende ler o livro (o que recomendo), talvez deva parar de ler este artigo agora e retornar a ele posteriormente. Não quero estragar a narrativa antecipando os desfechos, porém, se faz necessário para o desenvolvimento do assunto que assim seja feito.




Erasmino, personagem central de Tambores de Angola, percebe-se em meio a confusões mentais, pesadelos e a perspectiva iminente de enlouquecer, “sintomas de melancolia aliados a depressão sucediam-se”. Este quadro e a preocupação de sua mãe acabaram por conduzi-lo à Umbanda e posteriormente ao Espiritismo, onde desenvolveu a mediunidade tornando-se doutrinador, atividade esta que pressupõe um diálogo intenso com espíritos presos em emoções negativas para esclarecimentos acerca de sua situação e auxilio na evolução destes.

Esta atividade proporcionou a Erasmino o contato (sem que o soubesse) com o espírito que lhe perseguia e tramava contra seu bem estar em busca de vingança e, o consequente diálogo resultou em simpatia por parte do doutrinador para com o espirito a ser doutrinado, solidariedade para com os sofrimentos vividos por este, sem saber inicialmente que,  o próprio Erasmino era o alvo e também o causador de tamanha desdita.

Há aqui dois personagens que convivem há muitas encarnações, Erasmino (o encarnado) e seu perseguidor (o desencarnado). Ambos são causa e efeito e interferem diretamente nos destinos um do outro durante a história. Seguindo a cronologia do livro, começamos com o desencarnado atormentando Erasmino, este, em função de seu tormento, busca auxílio espiritual em uma terreira de Umbanda, onde depois de auxiliado é encaminhado para estudar em um centro Espirita.

No espiritismo Erasmino encontra sua fé e aceita o caminho que lhe permitirá resgatar dívidas contraídas no passado. Também é através do conhecimento adquirido na literatura Espirita que Erasmino muda sua atitude em relação ao mundo, tornando-se uma pessoa que trabalha em prol de outras, encarnadas ou não.

Façamos uma breve pausa aqui para analisar este trecho. Ao ser vítima de ataques de origem espiritual, a personagem central da trama encontra os caminhos que conduzem seu crescimento intelectual e espiritual, num exemplo claro de como um limão pode ser transformado em limonada.

Seguindo, vemos Erasmino na condição de doutrinador em um centro Espirita, buscando convencer - através de conversas -  espíritos envoltos em emoções negativas, a desistirem dos propósitos que os mantém atrelados a espíritos agora encarnados. Os diálogos que se travam nestas oportunidades, costumam revelar importantes informações do passado de ambos os espíritos envolvidos na situação e, aqui aparece o ensinamento que busco abordar neste artigo.

Erasmino aparece como vítima, mas o diálogo mostra que anteriormente havia sido algoz. O contrário também se verifica, sua vítima de outrora se transforma em seu algoz na busca por vingança. Costumamos pensar que a “Justiça Divina” é semelhante à justiça dos homens em sua lógica, mas isso não procede. Erasmino vitimou inúmeras pessoas durante determinada encarnação sua, porém depois de resolver-se com seu próprio sentimento de culpa, conseguiu reencarnar e dar sequência a seu processo evolutivo.

A mesma sorte nem sempre é reservada às vítimas, que imbuídas de forte sentimento de ódio contra seu algoz, transformam-se em perseguidores e permanecem aprisionadas nesta obsessão (nos dois sentidos da palavra).

O que ocorre aqui, não é uma injustiça Divina, mas apenas o livre arbítrio se manifestando. Erasmino devia entender-se com sua consciência, seguir reencarnando e buscar maneiras de reparar seu erro através da caridade, auxiliando espíritos que estão em sofrimento a encontrarem esclarecimento e conforto, possibilitando-lhes a possibilidade de desprender-se dos sentimentos em que estão aprisionados e seguir em frente.

Já às vítimas de Erasmino por sua vez, cabia perdoar e aceitar o sofrimento que lhes havia sido impingido por terceiros e seguir adiante em sua caminhada evolutiva, desejando que seu algoz tivesse oportunidade de refletir sobre os erros cometidos e transformar sua conduta, para futuramente não mais causar dor e sofrimento a ninguém.

Sabemos todos, o quanto é difícil ter esta atitude, desprendimento, capacidade para o perdão. Indignamos-nos constantemente com as injustiças praticadas contra quem quer que seja e, quando as vítimas somos nós ou as pessoas que amamos, isto se transforma em obsessão e sede de “justiça”.

A sábia Lei Maior que rege a humanidade visa à evolução de todos através do amor e do perdão. Sentimentos de ódio e de vingança aprisionam espíritos ocasionando uma injustiça ainda maior, porque inverte os papéis: Enquanto aquele que causou mal segue evoluindo, a vítima fica aprisionada no campo vibracional de seu algoz, os motivos são seu ódio obsessivo e o pensamento contínuo na vingança.

Isso não significa que quem prejudica os outros saia ileso nesse processo, ao contrário, é comum que a vingança seja levada a cabo por encarnações e mais encarnações até que algum agente externo (como o doutrinador do centro Espirita por exemplo) intervenha e ponha fim ao ciclo. Quando isso não ocorre, este ser permanece com essa mancha em seu registro kármico, podendo ser vitima de ação semelhante sem que ninguém possa interferir em seu benefício durante um determinado período.

A questão aqui, é que neste processo só há perdedores, ninguém ganha nada com a vingança ou com o ódio. Aquele que foi causador do infortúnio alheio, irá colher o que plantou à medida que essa colheita se faça necessária para o seu aprendizado e consequente reforma moral. Mas aquele que se arvora agente do Karma, e pretende fazer justiça com as próprias mãos, entra em um processo circular no qual se vê sem saída, pois o ódio e sentimentos de vingança lhe mantém atrelado ao causador de seu sofrimento, segue preso a seu campo espiritual, agindo para lhe prejudicar e muitas vezes alcançando seu intento enquanto este reencarna seguidas vezes em seu processo evolutivo.

A lição que não pode ser esquecida é que o perdão é uma virtude fundamental ao desenvolvimento humano. Quem desenvolve a capacidade de perdoar a si mesmo e aos outros, segue evoluindo, enquanto aquele que desenvolve e alimenta o ódio vira escravo de seu próprio martírio.

Em Tambores de Angola, tudo acaba se resolvendo da melhor maneira com a intervenção de uma Preta Velha. Os Pretos Velhos, suas origens e seu papel na espiritualidade também são assunto central do livro, mas disto trataremos na próxima postagem sobre “Tambores de Angola”.


13 de mai. de 2011

O Arrogante pensa que sabe tudo, o humilde aprende…

A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”    Miguel de Cervantes
puzzle
Um homem é a soma de suas crenças, seu discurso e suas atitudes. Neste contexto, é natural que ao professar aquilo que acredita, esteja imbuído de convicção, seguro dos valores que elegeu enquanto suas verdades pessoais. Não raro, defendemos nossas opiniões com a certeza de que nosso ponto de vista é o correto e o do nosso interlocutor (quando é o caso) o errado. Nossa defensiva trata de descartar qualquer possibilidade de duas ou mais verdades coexistirem harmoniosamente, de completarem-se e resultarem na descoberta de uma verdade ainda maior. 

Pense por um momento na vastidão do universo e em sua complexidade. Parece-lhe viável que toda a realidade que nos cerca possa ser explicada em um único livro? Que tantas diferentes culturas sejam capazes de assimilar este conhecimento da mesma maneira?

Se o conhecimento produzido pelo homem ao longo de apenas alguns milhares de anos precisou ser fragmentado em tantas disciplinas que quase nem dialogam entre si, que tipo de raciocínio nos leva a acreditar que os segredos da existência possam ser revelados em uma única filosofia, religião ou o que for? 

Da mesma maneira que no mundo material, cada disciplina abrange um determinado território do saber humano - e mesmo as disciplinas se subdividem em tantas outras - também assim tem sido no plano espiritual. Diferentes crenças e religiões tem se prestado a levar a determinados tipos de pessoas o conhecimento que lhes seria possível assimilar e que lhes era necessário mediante suas características culturais, sociais, espirituais e circunstanciais. 

É desta forma que surge, por exemplo, a Umbanda como um tipo de espiritismo mais popular que o Kardecismo. Da mesma maneira as Pentecostais se mostram mais eficazes em trazer para a religiosidade pessoas simples e que necessitam de uma linguagem mais direta e de uma moral mais rígida para se integrarem. A diversidade de linguagens e mensagens precisa ser proporcional à própria diversidade humana. Para alcançar os ouvidos e mentes é preciso alcançar primeiro o entendimento, falar o mesmo idioma e revelar apenas o conteúdo que pode ser assimilado. Também na escola não se ensina matérias complexas para quem ainda não aprendeu a ler.

Já que utilizei a metáfora da escola, me ocorreu perguntar “qual a principal característica de um aluno?” 

Se o objetivo é aprender, sua principal característica é a humildade. O oposto disso é a arrogância que acredita que já sabe tudo. 

Ao longo de minha vida, passei por diversas cidades e convivi com pessoas muito espiritualizadas, tanto em suas convicções quanto em seu comportamento diário. Em sua maioria eram pessoas estudiosas e que buscavam o conhecimento, mas conheci também pessoas simples e de profunda sabedoria. O que a maioria destas pessoas tinha em comum - a despeito de seu desenvolvimento espiritual e/ou intelectual e de todo conhecimento que possuíam - era o fato de que todo seu conhecimento se baseava em apenas alguns aspectos da espiritualidade e era totalmente fechado para outros. Vi pessoas participarem entusiasmadas de um ritual muito semelhante à Umbanda dentro de uma reserva indígena e julgarem o espiritismo de origem africana com preconceito. Vi pessoas com muito conhecimento acerca de Chakras e plexos e nenhum acerca de seres e dimensões e o oposto também.

Na ciência, tem predominado o pensamento cartesiano, que fragmenta o conhecimento e cria especialistas incomunicáveis fora de seu campo de estudo. Mas isso está mudando e, a Teoria da Complexidade de Edgar Morin vem conquistando cada vez mais adeptos.

Há algumas décadas a expressão “holística” ganhou força, representando uma visão do todo como maior do que a soma de suas partes. Este termo tem sido desde então utilizado na medicina, nas terapias, nas empresas, e na espiritualidade, ressaltando uma necessidade de reunirmos o saber fragmentado em um saber maior, onde os fragmentos interagem entre si.

Na medicina, sabe-se que aspectos psicológicos influenciam órgãos físicos, causam dores e doenças. Profissionais de diferentes especialidades são necessários em cirurgias complexas em razão da comunicação entre diferentes órgãos.

Nas empresas, investe-se mais na qualidade de vida do funcionário por entender que estes produzirão melhor se estiverem felizes. As terapias já não baseiam-se mais em uma técnica apenas, e misturam oráculosapometriareiki e - se percebem a necessidade - encaminham para casas espíritas para que sejam tratados também a mediunidade e os seres (guias e obsessores). Terapias de grupo como biodanza e musicoterapia utilizam técnicas de oficinas teatrais e misturam respiração, movimento, conscientização corporal, meditação e interatividade entre os participantes. 

É própria de nosso tempo a multidisciplinaridade. A chamada geração C (nascidos após 1990) cresceu sob as ideologias da Web, de acesso livre, cooperação, troca e compartilhamento de informações, e o mesmo farão as gerações posteriores. Isso provocará alterações profundas em nossa sociedade.

No campo da espiritualidade como no restante, cada vez mais as pessoas cruzarão informações gerando um novo conhecimento maior que a soma de suas partes. Estamos mais capacitados a compreender estas conexões múltiplas, nosso cérebro já não estranha a coexistência de informações de diferentes origens e, isto é também um exercício de humildade. Compreender o novo conhecimento implica em aceitar que o velho conhecimento não estava completo, é neste ponto que inicia a busca por perceber o todo. 

Todo preconceito é arrogante e contraproducente, impede o aprendizado e a evolução. Quem acha que já sabe o suficiente está se condenando a ficar defasado e obsoleto diante das necessidades complexas do tempo presente e do vindouro.

Sabedoria de Preto Velho – Robson Pinheiro



13 de maio é dia de Preto Velho, então fica aqui mais uma dica de leitura.

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