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15 de nov. de 2011

Origem da Umbanda - Parte 4 - Raízes Históricas - Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das 7 Encruzilhadas



No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que preparava-se para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos. 

Esses "ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.

Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.

Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.

O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem.

Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: _"Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor ?"
 
Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. 

Um médium vidente perguntou: _"Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?

_"Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados."

_"O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro."

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral: 

_"Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.” 

O vidente retrucou: _"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse: 

_"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".

Para finalizar o caboclo completou:

_"Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.

A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus. 

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade. 

A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos. 

O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.

Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

"_ Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."

Após insistência dos presentes fala:

"_Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:

"_Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. 

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das mencionadas. 

Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "_Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo. 

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação do médium. 

O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. 

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos as suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam. 

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la: 

"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".


Origem da Umbanda - Parte 3 - Raízes Históricas - A Fusão Africana e Ameríndia e o Surgimento da Umbanda




Vamos agora verificar o que aconteceu com essas duas “raízes” aqui, no Brasil, isto é, a RAIZ AFRO e a RAIZ AMERÍNDIA ou de nossos índios, com a “FUSÃO” ou a mistura de uma com a outra. 

O Culto Bantu dos africanos foi o que trouxe uma tendência mais livre. Começou por receber – já no Brasil – as influências dos outros e principalmente do culto nagô. Já por efeito dessa influencia, já por essa tendência mais liberal, pelas alturas do ano de 1547 foi constatado, positivamente, a existência de uma espécie de “fusão”, de mistura de práticas, de ritos, com o cerimonial que os nossos índios vinham praticando e denominado pelo branco como “adjunto de Jurema”... 

É importante lembrarmos que esse “adjunto da Jurema” que foi interpretado como uma espécie de sessão, de reunião, de agrupamento, já era, por sua vez, uma degeneração do verdadeiro CULTO DA YUREMA que foi um dos aspectos puros que ficou do primitivo CULTO DE MUYRAKITAN, que foi sendo esquecido ou se apagando dentro dos ritos sagrados dos tupy-nambás, dos tupy-guaranys e outras tribos, após a era cabralina, ou seja, já no período de acentuada decadência desse povo... 

Dessa “fusão” entre o culto dos bantus e o dito como “adjunto da Jurema” surgiu, depois de alguns anos, outra espécie de rito, com práticas mistas que ficou conhecido ou que foi chamado depreciativamente de “CANDOMBLÉ DE CABOCLO”, onde a par com a evocação e a crença nos “orixás”, predominava mais a influência ameríndia, com seus “Caboclos, seus encantados” etc. Dentro desse aspecto ainda existe em alguns Estados, particularmente na Bahia.  

Porém, por outro lado, esse aspecto, essa fusão, degenerou mais ainda, porque certas práticas do elemento negro, netos de africanos etc., de cunho nitidamente baixo, ditas como pura feitiçaria, prevaleceu mais.  

Assim, viu-se surgir mais uma “retaguarda negra”, nefanda e que ficou denominada de “CATIMBÓ”. 

Por quê “catimbó”? Porque nas primitivas práticas do “Candomblé de Caboclo”, dado a influência ameríndia, se usavam muito os timbós ou catimbós, cujos termos significam defumação, a par com o uso exagerado de muita fumaça de cachimbo...
Então, a essa degeneração negra, por uma questão de associação de idéias, de correlação, passaram a chamar de “Catimbó”... 

Nesse “Catimbó”, que ainda hoje em dia existe (infelizmente) e em muitos Estados e que, por aqui, pela Guanabara, já incrementaram como uma espécie de apêndice de muitos “terreiros”, o qual fazem funcionar depois da meia-noite. 

Isso é que há de mais escuro, trevoso e prejudicial.  

Nele, o que manda é o dinheiro e o mal. Os despachos, “as arriadas” para os tais mestres de linhas com seus encantados é coisa corriqueira e tudo é feito na base do pagamento... 

Os seus praticantes – os chamados de “catimbozeiros” são de baixíssima moral espiritual etc. Esses infelizes estão irremediavelmente presos nas garras do astral inferior – no que há de mais inferior mesmo, do baixo astral... 

Já é tão grande a infiltração desses elementos humanos e astrais no meio umbandista, que os interessados já lançaram à venda “estátuas” dos tais de “Zé Pilintra”, “Caboclo Boiadeiro”, enfim, dos tais “mestres do Catimbó”, para se confundirem com as verdadeiras entidades da Lei de Umbanda, pela massa cega, confiante, ingênua... 

Já verificamos em certos “terreiros” a existência delas, de mistura com “santos e santas, caboclos e pretos-velhos, sereias-do-mar” etc. Santo Deus! Quanta ignorância! Mas não podemos desanimar... 

Logo depois, essa “fusão” que gerou o “Candomblé de Caboclo” acolheu também a forte influência dos “santos” da Igreja Apostólica Romana. Daí é que veio o aspecto dito como sincretismo, similitude etc. 

Toda essa complexa mistura, que o leigo chama de “macumba, candomblé, baixo-espiritismo, magia-negra” e em certos Estados, de “canjerê, pajelança, batuque ou toque de Xangô, babassuê, tambor de mina” etc., recebeu ainda, nos últimos 50 anos, mais uma acentuada influência – a do Espiritismo dito como de Kardec. 

Então temos, há mais ou menos 414 anos, todos esses ASPECTOS, místico, mítico, religioso, fenomênico, sincrético, espirítico etc., de MISTURA e envolvendo PRÁTICAS, as mais CONFUSAS, fetichistas, materialmente grosseiras, de ritualísticas barulhentas, pelos tambores ou atabaques, triângulos, cabaças e outros instrumentos exóticos e primitivos, tudo isso em pleno SÉCULO XX, norteando as linhas-afins de uma IMENSA COLETIVIDADE ou massa humana, já na casa dos milhões, com seus milhares e milhares de Tendas, Cabanas, Centros, “Terreiros” etc.
Essa coletividade religiosa, mística, foi denominada, nos últimos anos, pelos INTERESSADOS – os monopolizadores dessa situação – como dos ADEPTOS DOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS ou AFRO-ABORÍGINES.  

Essa era (e ainda é, em grande parte) a situação existente, quando surgiu UM VIGOROSO MOVIMENTO DE LUZ, ORDENADO PELO ASTRAL SUPERIOR QUE ABARCOU TUDO ISSO NUMA TREMENDA E PODEROSA INTERPENETRAÇÃO HUMANA E ASTRAL... 

ESSE PODEROSO MOVIMENTO DE LUZ, dentro dessa coletividade dita como dos adeptos dos Cultos Afro-brasileiros, FOI FEITO PELOS ESPÍRITOS QUE SE APRESENTARAM COMO “CABOCLOS, PRETOS-VELHOS E CRIANÇAS”.... 

E quem são esses ESPÍRITOS? Vamos explicar....

Esses espíritos são, justamente, os dos antiqüíssimos payé, karaybas, morubixabas, tuxabas ou caciques e outros mais, da primitiva RAÇA TUPY ou dos Tupi-nambá, tupis-guaranis etc. (pois o tronco racial deles era um só), bem como pelos também antigos ou primitivos sacerdotes do povo africano, ditos como babalawôs, babalaôs, tatas etc., a par com os espíritos de crianças, que foram ordenados para essa missão, dado a mística dessa coletividade sobre eles, pela derivação da crença dos Ibejis dos africanos e dos curumins dos índios, e nos Cosme e Damião. 

Porque surgiram estes espíritos dentro desta coletividade?  

Ora, pelo que acabamos de explicar sobre os fatores de fusão e degeneração e consequentes misturas, etc., cremos que ficou patente que essa massa, essa coletividade, não podia continuar assim, dentro das condições expostas. 

Era (e ainda é, em 90%) de ausência absoluta nesses ambientes, a Doutrina, o Evangelho e, é claro, o estudo da mediunidade etc. 

Práticas as mais confusas, desordenadas, baixas – por envolverem oferendas com sacrifício de animais, sangue etc., ainda são fatores comuns nos “candomblés” que dizem praticar algum ritual de nação e que, por cima de tudo isso, ainda afirmam ser de “umbanda”. 

A ignorância é tão grande na maioria dessas criaturas que se intitulam de “pais de santo” ou babalorixás, babás, tatas, chefes-de-terreiros” etc., que ainda não foram capazes de notar a patente discrepância no tipo de oferenda (ou “comida de santo”) que fazem a seus “orixás” – tidos por eles como Espíritos-Ancestrais dos outros Espíritos, isto é, como Potência Elevadíssimas – aos quais oferecem sacrifícios, de animais, com sangue e tudo e também oferecem o mesmo tipo de sacrifícios, com sangue e tudo, para os Exus... considerados espíritos atrasados. Como se entender isso? Só entendimentos estacionados há 4.000 anos podem conceber e praticar semelhantes disparates... pois, como é que a mesma qualidade de oferenda pode servir tanto para Orixá quanto para Exu?   

Pois bem, era impossível que a providência Divina deixasse de AGIR... 

E foi por causa disso tudo que se fez imprescindível um novo MOVIMENTO dentro desses Cultos Afro-brasileiros ou de sua imensa massa de adeptos. 

E esse MOVIMENTO DE LUZ – feito pelos espíritos carmicamente afins a essa massa e pelos que, dentro de afinidades mais elevadas ainda, as que são pautadas no Amor, na ajuda, na RENÚNCIA em prol da EVOLUÇÃO DE SEUS SEMELHANTES – foi lançado através da mediunidade de uns e de outros, pelos “Caboclos”, “Pretos-velhos” etc., com o NOME DE UMBANDA... 

Começaram então a aparecer por dentro da Corrente Astral e humana, falanges e falanges de “Pretos-Velhos, de Caboclos”, como os “Pai-Benedito, Pai-João, Pai-Zé, Pai-Tomé, Pai-Jacó, Pai-Domingos, Pai-Francisco, Pai-Antonio, Pai-Moçambique, Pai-Malaquias, Pai-Tibiriça, Pai-Martim, Pai-Ernesto, Pai-Chico” etc., e as Mãe-Cambinda, Mãe-Maria, Mãe-Guiomar” etc., e as “Vovó-Conga, Vovó-Catarina, Vovó-Luísa” etc., e as “Tia-Chica, Tia-Maria, Tia-Francisca, Tia-Quitéria” etc.  

 A par com esses surgiram logo os Caboclos; foram os “Caboclo 7 Encruzilhadas, Caboclo 7 Flechas, Caboclo Ubiratan, Ubirajara, Urubatão, Tupy, Tupinambá, Guarany, Yrapuã, os Pena-Azul, Pena-Branca, Caboclo Águia-Branca, Arranca-Toco, Arruda, Coqueiro, Guiné etc.; bem como as Caboclas Jurema, Jandira, Jupira, Juçara, Indira, Cabocla do Mar, Cabocla Estrela, Cabocla Três Luas e muitas outras mais... 

E também vieram, acompanhando os pretos-velhos e os Caboclos, as Falanges dos espíritos de crianças, como os Cosme, os Damião, os Doum, os Tupãnzinho, os Crispim, os Joãozinho, os Duquinha, os Simeão, as Mariazinhas, as Manuelinha, e um sem número deles e delas... 

Todas essas entidades – e outras mais aos milhares – desceram como pontas-de-lança, ordenadas pelo Tribunal Planetário, afim de incrementarem por todos os meios e modos a EVOLUÇÃO da massa dita como dos adeptos dos cultos afro-brasileiros... 

Foi então que surgiram as primeiras manifestações dos cacarucaio – os Pretos-Velhos, dos primeiros Caboclos, nos terreiros, através da mediunidade de uns e de outros, os chamados médiuns, aparelhos ou veículos dos espíritos... 

E como legítimos trabalhadores da seara do Cristo Jesus, foram logo ensinando a Sua Doutrina, isto é, as Leis do Pai-Eterno...

Muito embora lutassem com a dificuldade do material humano mediúnico, mesmo assim conseguiram firmar ideias e Princípios, estabelecendo as REGRAS e fizeram um vasto trabalho de ADAPTAÇÃO de conceitos sobre Linhas etc... 

O termo UMBANDA que eles implantaram no meio para servir de BANDEIRA a esse novo MOVIMENTO, identifica, positivamente, a força e os direitos de trabalho dessa poderosa CORRENTE, que assim passou a se denominar Corrente Astral de Umbanda. 

Ensinaram mais que, Umbanda representa, dentro da coletividade dita como dos adeptos dos Cultos Afro-aborígines, as Leis de Deus, pela palavra do Cristo Jesus – o Regente de nosso planeta Terra. 

E esses “Caboclos”, esses “Pretos-Velhos”, dado a confusão reinante sobre a questão das linhas, todas fortemente enxertadas de “santos e santas” da Igreja Romana, embaralhando cada vez mais os entendimentos, conseguiram firmar doutrina sobre as Linhas, as Legiões, as Falanges etc... 

Portanto, sempre ensinaram que Umbanda é um termo Litúrgico, sagrado, vibrado, que significa, num sentido mais profundo – CONJUNTO DAS LEIS DE DEUS, porque tem por escopo, dentro do meio que atualmente se diz como Umbandista, implantar no coração de seus filhos de fé essas citadas leis... 

A Corrente Astral de Umbanda reconhece 7 Potências Espirituais que têm comando direto sobre o planeta Terra e também no sistema planetário de que ele faz parte, sendo que a principal dessas Potências é o Cristo Planetário, que supervisiona as outras seis, e que por efeito dessa adaptação tomam o nome de ORIXÁS. 

Essas Potências ou esses Orixás fazem-se representar através de LINHAS, cada Linha tendo 7 Legiões e cada Legião tendo 7 Falanges. Linha significa, a Faixa Vibratória em que estão situadas, por afinidade, as Entidades Mentoras, ou seja, os GUIAS, os PROTETORES e todas as humanas criaturas, dentro, é claro, desta mesma lei de afinidade.

Devemos lembrar a todos os nossos irmãos umbandistas, estudiosos etc., que o nome ou os NOMES pelos quais as Escolas, os sistemas filosóficos, as religiões, ou os cabalistas, os magistas, os esoteristas, os teosofistas, os gnósticos etc..., identificam as Potências Divinas, não altera a razão de ser dessas Potências e tampouco sua essência... Portanto é Brahma, é Olorum, é Zamby, é Deus, é Jesus, é Buda, é Mitra, é Osíris etc. No fundo de tudo estão sempre e inalteravelmente o Pai-Eterno e o Cristo Planetário... 

Antes, porém, de entrarmos na definição das 7 Linhas da Lei de Umbanda, faz-se necessário elucidarmos também um conceito errôneo que é comum e aferrado na mentalidade de muitos irmãos umbandistas, desses que ainda têm preguiça de analisar, comparar etc. 

Esse conceito é de que a “Umbanda é um dos aspectos do chamado Espiritismo de Kardec ou do Kardecismo”... 

Até irmãos estudiosos pensam e costumam afirmar isso, como ponto de doutrina. Estes estudiosos, parece, não analisaram a “coisa” como ela é e se apresenta. Batem-se no ponto de que, no umbandismo, existe a manifestação dos espíritos e no espiritismo também. Vamos elucidar esta questão de vez. 

Todos sabem que quem particularizou o termo “espiritismo” foi Allan Kardec, para traduzir, por ele, certos ensinamentos dos espíritos.  

A palavra espírito perde-se pela antiguidade, dentro dos livros religiosos de vários povos, inclusive dos Vedas, dos Brahmas, no livro dos mortos dos Egípcios, nas obras de Fo-HY, um dos mais antigos sábios da China, na Bíblia de Moisés, na Cabala dos Judeus, nos Evangelhos ditos do Cristo, e, para não citarmos mais, na antiqüíssima Bíblia Maia-Quíchua – o Popol-Vuh etc.  

O que se deve entender, realmente, por espiritismo? Segundo Kardec, é a Doutrina dos Espíritos. Como vêem, revelar a doutrina ou as coisas do espírito não foi exclusivo privilégio de uns e outros... 

“Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível etc.”(Livro dos Espíritos, int., pág. 11.) E estes espíritos foram engendrados exclusivamente por Kardec para criarem uma doutrina sua – própria? 

Ora, estas relações, esta doutrina, que também traduzem as Eternas verdades, são tão velhas quanto a própria humanidade, porquanto podem ser identificadas nos antigos e sagrados livros da mais velhas religiões do mundo. 

É só compararmos os 34 itens com que Kardec fundamentou os “pontos principais” da doutrina que os espíritos transmitiram, em sua introdução (obra citada, págs. 21-25)... 

Devemos reconhecer então que a essência desta doutrina e suas relações com o mundo da forma, comunicações, fenômenos inerentes à mediunidade, são FATOS que remontam aos primórdios das civilizações. Não são, portanto, REALIDADE somente conhecidas de 1857 aos nossos dias. 

E a Umbanda que tem como vértice de sua razão de ser, desde as eras primitivas, ou mais particularmente, desde a segunda raça-raiz, os Lemurianos, numa Era de Escorpião – o signo da magia, a exteriorização periódica ou por ciclos, destes fatos, ressurgiu na atualidade, como o fizera no passado entre os Atlantes, os Maias, os Quíchuas, os Tupy-guarani e os Tupy-nambá da época pré-cabraliana e ainda bem como há milênios, quando o antigo apogeu da raça africana, que conservou dentro da tradição oral até nossos dias, farrapos desta Lei ou desta Doutrina – revelação do próprio verbo – primitiva síntese relígio-científica, cujas derivações podem ser identificadas nos diferentes sistemas religiosos (pelo aspecto esotérico) de todas as raças. 

Vamos ressaltar, agora, uma verdade positiva: Kardec codificou, isto é, propagou, apenas, PARTE dessas antigas Verdades – reveladas pelos espíritos de acordo com a época – expressões de uma Lei imutável, que vêm sendo confirmadas e ampliadas dentro de nossas Linhas de Umbanda, por grandes instrutores, espíritos altamente evoluídos, que consideramos como Orixás intermediários e Guias, que têm como missão precípua reconstituir as partes restantes ou seja, o Todo... 

O que realça, claramente, do exposto? Que há uma certa identidade entre o Espiritismo e a Umbanda. Esta identidade se verifica quanto à doutrina, à manifestação e comunicação dos espíritos, pelo fator mediúnico, bem como pela parte científica, filosófica, moral etc. 

Mas sobrepõe-se logo, numa comparação, o seguinte: a Lei de Umbanda não é o Espiritismo apenas. Este, com todo seu conteúdo, é que faz parte da Umbanda, isto é, se integra ou se ABSORVE NELA.

Na Umbanda, ALÉM da parte filosófica, científica, doutrinária e dos fenômenos da mediunidade, pela manifestação, desta ou daquela forma, dos espíritos, formando estas coisas, os atributos principais e tacitamente reconhecidos como particularizando a escola Kardecista, tem a Umbanda ainda, bem definido, o aspecto propriamente dito de uma religião, pela Liturgia, Ritual, Simbologia, Mitologia, Mística, bem como pela Magia, Astrologia esotérica e outras correlações de Forças NÃO PRATICADAS no denominado espiritismo, e, portanto, INEXISTENTES. 

Podemos portanto, agora, entrar com a definição ou o conceito interno sobre as chamadas 7 Linhas da Lei de Umbanda. 

ESSAS 7 LINHAS ou VIBRAÇÕES ORIGINAIS ou (OS 7 ORIXÁS), SÃO: 

LINHA ou VIBRAÇÃO ORIGINAL DE OXALÁ (ou de ORIXALÁ, que significa: o maior, aquele que está acima de todos os Orixás, sem ser o DEUS, isto é, Olorum, Zamby, Tupan etc). Essa Linha é o mesmo que se compreende como a Faixa Vibratória direta do Cristo Planetário – mais identificado como JESUS – e que faz a supervisão das demais, em suas ações envolventes ou de influenciações sobre o Planeta Terra, do qual, Ele, o Cristo Cósmico, é o Regente Direto. Essa Faixa Vibratória faz-se representar diretamente na Corrente Astral e Humana de Umbanda, através das entidades que se apresentam sob a forma de Caboclos. Na adaptação popular dos terreiros, diz-se como Linha de Oxalá mesmo. Esses espíritos ou Entidades trabalham muito na magia positiva, com os elementares ou com os ditos “espíritos da natureza” da corrente eletromagnética SOLAR... 

OBS.: Essa faixa vibratória dá margem ao entendimento dos menos observadores, para que digam existir na Umbanda uma Linha do Oriente (assim como uma espécie de oitava linha, saindo portanto, do segredo do setenário). 

Essa tal linha não existe na Umbanda. O que há é o seguinte: as Entidades que se apresentam como Caboclos, no grau de Guias e daí para cima, são espíritos luminares, em missão, dentro da Corrente Astral de Umbanda.... Muitos são magos, foram altos sacerdotes ou iniciados dos antigos Templos Orientais etc. Os seus verdadeiros corpos astrais conservam a raiz da última personalidade, isto é, de magos do Oriente, de hindus etc. 

LINHA ou VIBRAÇÃO DE YEMANJÁ. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que se apresentam na Umbanda sob a forma de Caboclas e que estão muito ligadas ou que trabalham dentro da magia positiva, com os elementais das águas ou com os “espíritos da natureza” da corrente eletromagnética LUNAR... Na adaptação popular dos terreiros diz-se como Linha do Povo do Mar, Povo das águas etc... 

LINHA ou VIBRAÇÃO DE YORI. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que se apresentam na Umbanda sob a “Roupagem Fluídica” de crianças e que trabalham muito na magia positiva com os elementais ou com “espíritos da natureza” telúricos e eólicos da corrente eletromagnética do planeta MERCÚRIO... Na adaptação popular dos terreiros diz-se como linha das crianças, dos “beijadas”, de Cosme e Damião etc... 

LINHA ou VIBRAÇÃO ORIGINAL DE XANGÔ. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que se apresentam na Umbanda sob a forma de Caboclos e que trabalham muito na magia branca ou positiva com os elementais ou com “espíritos da natureza” ígnea e hídrica pela corrente eletromagnética do planeta JÚPITER.
Na adaptação popular dos terreiros diz-se como Linha do Povo da Cachoeira, Linha de São Jerônimo etc... 

LINHA ou VIBRAÇÃO ORIGINAL DE OGUN. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que na Umbanda se apresentam como Caboclos e que trabalham muito na magia branca ou positiva com os elementais ou com os “espíritos da natureza” ígnea e hídrica pela corrente eletromagnética do planeta MARTE... Na adaptação popular dos terreiros diz-se como Linha de São Jorge, etc... 

LINHA ou VIBRAÇÃO ORIGINAL DE OXOSSI. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que na Umbanda se apresentam como Caboclos e Caboclas que trabalham muito na magia branca ou positiva com os elementais ou os “espíritos da natureza” telúrica ou eólica pela corrente eletromagnética do planeta VÊNUS... na adaptação popular dos terreiros diz-se como Linha de S. Sebastião, dos Caboclos da mata etc... 

LINHA ou VIBRAÇÃO ORIGINAL DE YORIMÁ. Nessa Faixa Vibratória estão situados todos os espíritos que se apresentam na Umbanda sob a “roupagem fluídica” de Pretos-Velhos e de Pretas-Velhas e que manipulam muito a magia positiva sob todos os aspectos, inclusive pelas rezas etc., tudo se relacionando com os elementais ou com os ditos como “espíritos da natureza” eólica e telúrica pela corrente eletromagnética do planeta SATURNO... Na adaptação popular dos terreiros diz-se como Linha dos Pretos-Velhos, Linha de São Cipriano, Linha dos “Cucarucaio”, e até como Linha das Almas – pela interpretação dada nos chamados “candomblés” etc.  (Nota 8 -  Essa questão de linhas, no meio umbandista, tem sido o eterno “cavalo de Batalha” dos doutores da lei, dos intransigentes e dos fracos de entendimento. Compuseram, arquitetaram linhas a vontade, porém sempre com a causa presa a Igreja Romana. Tanto é, que todas as linhas que existem, como ensinamentos nos livros da literatura umbandista, têm santos e santas a granel... chegaram até a compor linhas, ora com cinco orixás e dois santos, ora com sub-linhas de quarenta e nove santos... 

Qualquer um que tenha um plano de entendimento não pode aceitar as tais linhas assim... Falta-lhes o sentido oculto, teológico, filosófico, científico etc. 

Agora, prezado irmão umbandista, que você já leu a classificação das Linhas de Umbanda e deve ter entendido também que os espíritos ditos como de “Caboclos, Pretos-Velhos e crianças” (considerados como eguns e, portanto, repelidos nos cultos afros puros), foram os que implantaram a nova corrente, isto é, um movimento novo, ao qual deram o nome de Umbanda... 

Deve ter compreendido mais, que nem a “raiz” africana, nem a “raiz” ameríndia ou de nossos índios, são ou foram Umbanda propriamente dita...


Origem da Umbanda - Parte 2 - Raízes Históricas - Raíz Ameríndia ou Adjunto de Jurema




Saibam vocês, meus irmãos umbandistas, brasileiros ou não, que os nossos ÍNDIOS, especialmente os TUPY-NAMBÁ, TUPY-GUARANY, pelas alturas do ano de 1500, NÃO ERAM TRIBOS OU UM POVO PRIMITIVO QUE ESTIVESSE NA INFÂNCIA DE SUA EVOLUÇÃO. Quem supôs isso, foram os brancos conquistadores.  

Não tiveram capacidade para verificar que, em vez de ser um povo primitivo, era, sim, um POVO ou uma raça tão antiga, que se perdia por dentro dos milhões de anos a sua origem... Também, eles – os portugueses que aportaram com Cabral e mesmo, posteriormente, nas terras dos brasis, não vieram para estudar a antiguidade, a cultura, a civilização etc., de nossos aborígines.... 

Os Tupy-nambá, os Tupy-guarany, como ficou constatado muito depois, por inúmeras autoridades e estudiosos pesquisadores, era um povo que estava em franca decadência, isto é, no último ciclo de sua involução... 

Para que você, meu irmão umbandista, entenda isso, de maneira simples, atente a essa verdade: é “ponto fechado”, são fatos históricos, são verdades ocultas ou são dos ensinamentos esotéricos que, toda Raça surge, faz sub-raças, evolui sob todos os aspectos e, depois, entra em decadência, para dar lugar a outra nova Raça. 

É preciso que compreendamos essa questão de decadência das raças. O que tem acontecido é o fenômeno das “migrações espirituais” ou seja: os espíritos vão deixando gradativamente de encarnar numa raça, ou melhor, na última sub-raça, para irem animar novas condições, em novos movimentos de novas correntes reencarnatórias, para se constituírem em nova Raça. Assim, o que os espíritos abandonam, obedecendo as diretrizes de uma Lei Cármica, Superior – são os caracteres físicos de um raça e sua espécie vai diminuindo, diminuindo, por falta do dinamismo das reencarnações, até se extinguir ou na melhor das hipóteses, conserva os remanescentes atrasados, porque os outros, a maioria, os mais adiantados não voltam mais. 

Portanto, a humanidade, obedecendo à Lei dos Ciclos e dos Ritmos, evolui constantemente, porém através de várias raças. Algumas dessas Raças já nos precederam e passaram por duas fases: uma, ascendente e de progresso e outra, descendente ou de decadência.  

Foi, dentro desse critério, desse conceito, dessa verdade, que a antiga tradição de todos os povos atesta a passagem pela face da terra de Raças assim qualificadas: 1ª a Raça pré-Adâmica; 2ª a Raça Adâmica; 3ª a Raça Lemuriana; 4ª a Raça Atlanteana; 5ª a Raça Ariana, que é a nossa, a atual, no início de sua Quinta Ronda Cármica etc.
Porque 7 são as Raças-raiz, 7 são as Rondas Cármicas, 7 são os ciclos evolutivos, pelos quais, terá de passar toda a Humanidade. Portanto, já passou por 4 dessas condições e está na 5ª; falta ainda passar por mais 2 Raças, 2 Rondas e 2 Ciclos, que virão no futuro, daqui a milhões e milhões de anos. 

Foram diversos os fatores ou as causas que contribuíram para a decadência e consequente desaparecimento dessas Raças pré-históricas, com suas civilizações: causas psíquicas ou morais, físicas, cósmicas (cataclismos), biológicas, mesológicas etc.
As suas civilizações – todos os documentos, todos os códigos, todos os ensinamentos da antiga tradição o atestam – foram adiantadíssimas, sob todos os aspectos. 

Foi, portanto, um povo, os Tupy-nambá, dos Tupy-guarany etc. – já na última fase de acentuada decadência da raça, ou seja, dentro das condições citadas, porém ainda com os vestígios positivos de uma avançada civilização que os portugueses encontraram no Brasil do ano de 1500... 

O povo dos Tupy-nambá, dos Tupy-guarany, da era pré-cabralina era tão adiantado, tão civilizado, quanto os outros povos que habitaram a América do Sul – na época deles – assim como os Maias, os Quíchuas etc. 

Suas concepções, sua mística, enfim, sua Teogonia, era de grande pureza e elevação, somente alcançada, pelos que já vinham dentro de uma velhíssima maturação espiritual. 

E a prova insofismável disso era a sua língua – o Nheengatu, o idioma sagrado, a língua boa, incontestavelmente um idioma polissilábico. 

O Nheengatu – o idioma sagrado dos Tupy-nambá, dos Tupy-guarany – revela claramente, em sua morfologia, em seus fonemas, no seu estilo metafórico etc., ter sido uma língua raiz, polida, trabalhada através de milênios. Foi tão bem trabalhada essa língua polissilábica, que se presta às mais elevadas variações ou interpretações poéticas. Dela derivaram diversos idiomas, também considerados antiquíssimos.

Vamos, então, verificar por dentro de sua teogonia a pureza de suas concepções sobre as coisas divinas etc., pois os tupy-nambá, os tupy-guarany eram, sobretudo, um povo monoteísta. 

Acreditavam, adoravam a um Deus-Supremo sobre todas as coisas, a quem chamavam com muita veneração de TUPAN.  

TUPAN ou TUPÃ – de tu, que significa ruído, estrondo, barulho e pan, que significa ou exprime o som, o estrondo, o ruído feito por alguém que bate, que trabalha, que malha etc. 

TUPAN era, portanto, o Supremo Manipulador, isto é, Aquele que manipula a natureza ou os elementos. É o divino Ferreiro que bate incessantemente na Bigorna Cósmica. Era considerado, sem dúvida alguma, o Supremo Poder Criador. 

Veneravam a GUARACY, YACY e RUDÁ (ou Perudá), como a tríplice manifestação do poder de Tupan. Eram atributos externos. 

GUARACY – o SOL – de Guará, vivente e cy, mãe. Davam essa dupla interpretação: Pai ou mãe dos viventes no sentido correto de que o Sol era – e é – o princípio vital que animava todas as coisas da natureza, o mesmo que a luz que criava a vida animal, etc. Guaracy era, sem dúvida, a representação visível, física, do Poder Criador que, através dele, criava nos elementos da própria natureza, as coisas, os seres etc. Enfim, era o elemento ígneo – o pai da natureza.  

Por isso, diziam, dele, Guaracy, saía tatauy, as flechas de fogo de Tupan, os raios do céu que se transformavam em tupacynynga, o trovão. Por causa disso é que certos interpretadores “ligeiros” deram Tupan como sendo, puramente, o “deus do trovão”... 

YACY – a LUA – de Ya, planeta e cy, mãe ou progenitora: era a mãe dos vegetais ou ainda a mãe natura.  

RUDÁ ou PERUDÁ – o deus ou divindade que presidia ao AMOR, à reprodução. Rudá era evocado pelas cunhãs (mulheres), em suas saudades, em seus amores, pelos guerreiros ausentes, para que eles só tivessem pensamentos e coração para recordá-las. 

E para reafirmar esse tríplice conceito teogônico, os payé (sacerdotes) ensinavam mais que, Guaracy representava o Eterno masculino, o princípio vital positivo quente de todas as coisas. E Rudá era o intermediário, isto é, o amor que unia os dois princípios na “criação da natureza”... 

Acreditavam mais em MUYRAKITAN, ou MURAYKÍTAN, termo oriundo de uma língua matriz, de tal antiguidade, que “somente Tupan era quem podia tê-la ensinado à raça mais antiga de toda a Terra”. Essa língua era o ABANHENGA, que surgiu com a primeira raça que nasceu na religião de brazilan (Nota 3 – Não pretendemos, nesta singela obra, nos estender, com estudos ou provas, sobre a antiguidade do Brasil – e das Américas – os brasis, o brazilan dos primitivos morubixabas. Todavia, os que quiserem ver como a História do Brasil – e da América – está “incerta”, adulterada, podem recorrer às obras de reconhecidas autoridades, cientistas internacionais, assim como: Lund, Ameguino, Pedberg, Gerber, Hartt, H. Girgois, etc., bem como nas obras de Alfredo Brandão, Domingos Magarinos e outros. 

Através de toda essa literatura, científica, histórica etc., se comprova que: a primeira região a emergir do pélago universal – das águas oceânicas – foi o Brasil; que o homem surgiu na era terciária – e não na quaternária, como é de ensino clássico – aqui no Brasil; que a escrita mais antiga de toda a humanidade tem sua origem na primeira raça que surgiu na primeira região do planeta Terra, que adquiriu as condições climatéricas para isso – o Brasil, isto é, o seu planalto central...) conforme reza o TUYABAÉ-CUAÁ - a Sabedoria dos Velhos Payés (do que falaremos adiante). 

MUYRAKITAN ou MURAYITAN se decompõe assim: de mura, mar, água; yara, senhora, deusa e kitan, botão de flor. Portanto, pode ser interpretado corretamente assim: “Deusa que floriu das águas, Senhora que nasceu do mar, Deusa ou Senhora do mar”.  

Veneravam muito esta Divindade, a quem prestavam um culto todo especial. Acreditavam em seus poderes mágicos e terapêuticos, através de seu itaobymbaé – espécie de argila de cor verde, uma substância nativa, colhida no fundo de certos lagos, a qual transformavam num poderoso amuleto, que adquiria a forma de um disco. 

Os itaobymbaé só podiam ser colhidos e preparados pelas ikannyabas (as conhãtay ou moças virgens que eram votadas, desde a infância, como sacerdotisas do culto de MUYRAKITAN, o qual era vedado aos homens. Posteriormente, isto é, no período da decadência, se transformou no culto de Yuremá, dito na adaptação do elemento branco como o adjunto da Jurema). 

Essas sacerdotisas eram as únicas criaturas entre os tupy-guarany que podiam preparar esse talismã e o faziam assim: esperavam sempre que YACY, a lua, estivesse cheia, estendendo a sua luz sobre a placidez das águas do lago escolhido pelas ikannyabas, que, dentro de uma severa preparação ritualística e mágica, para ele se dirigiam. Esse preceito implicava na passagem da árvore da YUREMÁ verdadeira, onde invocavam ou imantavam os fluídos magnéticos da lua, através de cânticos e palavras especiais sobre determinado número de folhas, para serem mastigadas por elas, na ocasião de mergulharem no lago. 

Assim, enquanto algumas dessas ikannyabas mergulhavam, as outras ficavam cantando certas melopéias rítmicas acompanhadas do termo mágico ma-ca-uam. Quando uma ou outra emergia com a substância maleável – a argila verde – as outras colocavam-na em pequeninas formas, já com o formato de um disco, com um orifício no centro. 

Depois de recolhida a quantidade necessária, todas ficavam à beira das águas em cerimônia especial, uma espécie de encantação mágica, toda dedicada às forças da águas – a Muyrakitan, até que Guaracy, o Sol, começasse a nascer, a fim de endurecer com seus raios de luz a dita substância, para ficar como o itaobymbaé. Esses talismãs tomavam uma consistência tão rija, que nada mais poderia ser feito ou talhado sobre eles.

Esses amuletos de Muyrakitan eram verdes, verdes-claros e os mais preciosos eram os de cor branca. Todos eram de uso exclusivamente feminino e usados na orelha esquerda das cunhãs ou mulheres.  

O seu equivalente para os homens era o TEMBETÁ, um talismã de nefrita verde, em forma de T, que os índios traziam pendente no lábio inferior, através de uma perfuração. 

TEMBETÁ, que se originou de Tembaeitá, de Tê ou T, o signo divino (gravado nas pedras sagradas) da cruz (de curuçá); de mbaé, objeto, e de ita, pedra. Pode ser interpretado corretamente assim: cruz feita de pedra (em sentido sagrado). 

O tembetá era um talismã de Guaracy – o Sol – preparado pelos payé ou pelos karayba, para que imantasse o raio, o fogo do céu, enfim, a energia solar. Era o símbolo mágico do “deus-sol”. Também preparavam outros amuletos que tomavam a designação de Itapos-sangas, inclusive os que eram feitos ou recebiam a força de YARA – mãe d’água.  

A muyrakitan ou o itaobymbaé e o tembetá juntos representavam a força mágica de TUPAN – o Deus ÚNICO.  

Agora, meu irmão umbandista, você já deve estar entendendo melhor a questão da “raiz” Ameríndia ou de nossos índios. Mas vamos prosseguir, vamos ver o que significava, entre os tupy-nambá e os tupy-guarany, daquele glorioso passado o TUYABAÉ-CUAÁ... 

Tuyabaé-cuáá – a sabedoria dos velhos payé, era precisamente a tradição mais oculta, conservada através de milênios, de payé a payé, ou seja, de mestre a mestre, de mago a mago, a qual conjugava todos os conhecimentos mágicos, terapêuticos (o caa-yaari), fenomênicos, espiríticos, ritualísticos, religiosos etc.

Essa tradição, esses ensinamentos, essas práticas mágicas, terapêuticas, o mistério das plantas na cura, a interpretação misteriosa sobre as aves, tudo isso era tuyabaé-cuaá. 

O PAYÉ era justamente o mago mais elevado, dentro da tribo. Conhecia a magia a fundo, praticava a sugestão, o magnetismo, o hipnotismo e, sobretudo era mestre no uso dos mantras (Nota 4 – É interessante verificarmos que, hoje em dia, nenhuma Escola conhece mais o segredo dos mantras. Apenas, dentro dos mais altos graus, ensinam certas vocalizações com vogais – uma coisa infantil – doutrinando que “mantras são vocalizações especiais que se imprimem às palavras, num cântico”... Isso não resolve nada, em matéria de magia, na movimentação da força dos elementais. Aprendemos, nós, de nossos “Caboclos” que mantras são vocalizações especiais que se imprimem sobre certos termos, isto é, sobre palavras especiais.)  

O Karayba não tinha a categoria de um payé; era tratado mais como feiticeiro, isto é, aquele que se dava às práticas de fundo negro etc. Posteriormente, confundiram um com o outro. 

Todo movimento espiritual, mágico ou de fenômenos astrais que pudesse afetar a vida da tribo era coordenado pelo payé, que influenciava diretamente o morubixaba, que, como chefe da tribo, praticamente nada fazia sem consultar o payé, que por sua vez também ouvia os anciões. 

Esses velhos magos da sabedoria – os pajés, como se grafou depois – conheciam o mito solar, ou melhor, os Mistérios Solares (simbolizados no Cristo Cósmico), ou seja, a lei do verbo Divino, tanto é que jamais se apagou nos ensinamentos de tuyabaé-cuaá o que a tradição remotíssima de seus antepassados havia legado sobre YURU-PITÃ, SUMAN e YURUPARY e exemplificavam tudo, revelando o mistério ou o sentido oculto da flor do mborucayá (o maracujá), a par com a interpretação que davam a curuçá – a cruz. 

Dentro da tradição, se recordava que, num passado tão longínquo quanto as estrelas que estão no céu, surgiu, no seio da raça tupy, iluminada pelo “deus-sol” uma criança loira, que disse ter sido enviada por Tupan. Falava de coisas maravilhosas e ensinava outras tantas. Recebeu o nome de YUPITAN. 

Assim, cresceu um pouco entre eles e um belo dia, também iluminada pelo sol, desapareceu. Porém, antes disso, disse que noutra época viria SUMAN e depois YURUPARY. Realmente o termo Yupitan tem um significado profundo. 

YUPITAN  –  de  yu,  loiro,  doirado,  e  pitan,  criança,  menino,  significava,  na antiguíssima  língua  matriz,  o  abanhenga,  criança  ou  menino  loiro  iluminado pelo  sol.  Davam-lhe  também  o  nome  de  ARAPITà –  de  ara,  luz,  esplendor,  e pitã, criança etc., e significava o filho iluminado de Aracy, de Ara, luz, e cy, mãe ou progenitora, origem etc. 

Depois,  muito  depois  (reza  a  tradição)  de  terem  passado  algumas  gerações, vindo  do  lado  do  oriente,  aparece  um  velho  de  barbas  brancas,  entre  os  tupy-nambá,  dizendo-se  chamar  SUMAN  (ou  SUMÉ),  que  passou  a  ensinar  a  lei Divina  e  muitas  coisas  mais,  de  grande  utilidade.  Ele dizia,  também,  que  foi Tupan que o tinha mandado. SUMAN também, certo dia, se despediu de todos e pôs-se a caminhar  para  o  lado  do  Oriente  até desaparecer,  deixando  entre  os payé  todo  o  segredo  de  tuyabaé-cuaá  e  assim  ficou  lembrado  como  o  “pai  da sabedoria”...  Entre  os  tupis-guaranis,  também  foi  constatada  a  tradição  viva, positiva,  sobre  YURUPARY  –  o  seu  Messias  (possivelmente,  uma  das encarnações do Cristo Planetário).

Yurupary  –  de  yuru,  pescoço,  colo,  garganta  ou  boca,  e  pary,  fechado, apertado,  tapado,  significa  o  mártir,  o  torturado,  o  sofredor,  o  agonizante. 

YURUPARY, na  teogonia  ameríndia,  foi  o  filho  da  virgem  Chiúcy,  de  Chiú, pranto,  e  cy,  mãe,  a  mãe  do  pranto,  uma  máter  dolorosa  que  viu  seu  filho querido  ser  sacrificado  porque  pregava  (tal e  qual  JESUS)  o  amor,  a  renúncia,  a igualdade e a caridade. 

YURUPARY foi, portanto, entre os tupy-guaranis, um MESSIAS e não o que os jesuítas daqueles tempos interpretaram – o “diabo” (Nota 5 – Tal e qual fez com os africanos, a Igreja  também  quis  fazer  assimilações  entre  os  nossos  índios  com  seus “santos”. Os jesuítas fizeram uma tremenda força, para “identificar” Suman ou Sumé com  o  “Santo  Thomé  ou  Tomé”,  deles.  Mas  não  “pegou”  de  jeito  algum...  Sobre  a Tradição  de  Yurupary,  o  Cel.  Sousa  Brasil  no  tomo  100  do  vol.  154  da  Revista  do Instituto  Histórico  –  2º,  de  1926,  dá  testemunho  irrefutável  dessa  venerada  tradição que  ainda  encontrou  entre  os  nossos  índios).  Tanto  é  que  se  perde  no  passado  de sua remotíssima tradição esse tema de um Messias, da cruz e de seu martírio. Por isso é que veneravam a Curuçá – a cruz – de curu, fragmento de pau ou de pedra e  çá,  gritar  ou  produzir  qualquer  som  estridente.  Curuçá  em  sentido  místico, significa  cruz  sagrada,  porque recebeu  o  sofrimento,  o grito  do  agonizante  ou  a agonia  do  mártir.  Em  certas  cerimônias,  os  payé,  depois  de  produzirem  o  fogo atritando  dois  pedaços  de  pau,  os  cruzava  (para  formar  uma  cruz)  para simbolizar o Poder Criador – o FOGO SAGRADO... 

E foi por causa disso, desse conceito, desse conhecimento, que eles – os índios – receberam com alegria, com amigos, como irmãos, aos portugueses de Cabral, porque  nas  velas  de  suas  naus  estavam  desenhada  uma  espécie  de  cruz.
Pensaram  que  –  segundo  uma  antiga  profecia  –  eles  vinham  para  ajudá-los...  e como se enganaram... 

Mas,  voltemos  a  falar  sobre  os  conhecimentos  dos  payé.  Como  já  dissemos, eram tão profundos os conhecimentos desses magos, tinham conservado tão bem dentro  da  tradição  a  sabedoria  do  Sumé,  que  quando  queriam  simbolizar  para os mborubixabas, para os guerreiros, para as cunhãs etc., a “divina revelação da natureza”,  isto  é,  a  eterna  verdade  sobre  Aquele  enviado  de  Tupã,  que  vinha sempre,  desde  o  princípio  da  raça  e  que  entre  eles  veio  como  Yurupary, exemplificavam este mistério, tomando de uma flor de mborucuyá...  

Mborucuyá (ou maracuyá – maracujá, a passiflora coerulea) revela em sua flor a coisa sagrada; ela obedece Guaracy – o Sol – que é filho de Tupã. Quando ele nasce,  ela  vive,  se  abre  e  mostra  seus  mistérios  e  quando  Guaracy  morre  (se esconde,  no  ocaso),  ela  se  enluta,  se  fecha  (é  a  questão  que  a  ciência  denomina Heliotropismo ou tropismo – pelo Sol).  

Vejam (continuam dizendo), a flor do maracuyá guarda a paixão, o martírio de Yurupary; ela tem os cravos, a coroa, os açoites, a coluna e as  chagas... E assim, reavivava na lembrança todos os conselhos de seu Messias, de seu reformador – o  filho  da  virgem  Chiúcy  (o  próprio  termo  mborucuyá  diz  tudo  em  seu significado:  mboru  que  significa  tortura,  sofrimento,  martírio  e  cuyá  o  mesmo que cunhã, mulher. Então temos: martírio da mulher). 

Assim  eram  os  payé  daqueles  tempos.  Conhecedores  da  magia,  praticavam também todas as modalidades mediúnicas. E eram mais seguros – sabiam o que faziam  e  porquê  –  do  que  os  “pretensos”  pais-de-santos  ou  os  tais  “médiuns chefes” de hoje em dia.... 

Tomavam  precauções  especiais  sobre  os  médiuns  e  “quando  queriam  que  as mulheres  que  tinham  um  dom,  profetizassem,  isto  é,  caíssem  em  transe mediúnico,  primeiro  envolviam-nas  no  mistério  do  caa-timbó  ou  timbó,  isto  é, nas  defumações  especiais  de  plantas  escolhidas,  depois  emitiam  um  mantran próprio para as exteriorizações do corpo astral – o termo ma-ca-aum, dentro de vocalizações especiais e rítmicas. Logo, aplicavam sobre suas frontes o mbaracá. 

Elas  caíam  como  mortas,  eles  diziam  palavras  misteriosas  e  elas  se  levantavam, passando a profetizar com o Rá-anga – os espíritos de luz... 

Mas  o  que  era  Mbaracá?  O  Mbaracá  ou  maracá  era  um  instrumento  que produzia ruídos ou sons especiais. Ele  falava, respondia, sob a ação mágica dos payé.  Enfim,  era  um  instrumento  dotado  de  um  poder  magnético  e  era, positivamente, um canal mediúnico. (Nota 6 – Afirmamos que era um instrumento de  poder  magnético,  porque  tinha  o  seu  preparo  feito  sob  as  forças  da  magia  dos astros.  O  mbaracá,  em  si,  era  uma  espécie  de  chocalho,  manipulado  do  fruto conhecido como cabaceira – a cucurbita lagenaria – e dentro desse fruto [dessa cabaça] eram  colocadas  certas  pedrinhas  ou  seixos.  Essas  pedrinhas  eram  amuletos  ou itapossangas especiais, inclusive o talismã de muyrakitan [o itaobymbaé], bem como o  Tembetá.  Tanto  empregavam  esse  mbaracá  para  os  efeitos  mágicos,  como  para  os fenômenos  ou  da  mediunidade,  para  fins  hipnóticos,  isto  é,  para  ativar  o  ardor  dos guerreiros, no combate...) 

Jamais explicaram ao branco, como procediam para comunicar esses poderes ao mbaracá, em suas cerimônias de bênção, batismo, e imantação... 

Testemunhou essas cerimônias e esses poderes, Sans Standen, um alemão que foi aprisionado pelos tupy-nambá, durante muitos anos e que pôde assistir a esses fenômenos produzidos pelo payé. 

Uma outra testemunha insuspeita também presenciou os poderes mágicos de um karayba e esse foi o padre Simão de Vasconcelos, que relata no livro II das Crônicas da Companhia de Jesus do Estado do Brasil o caso da clava sangrenta. 

Disse ele: “um tal carahyba fixou duas forquilhas no chão, a elas amarrou uma clava enfeitada de diversas penas e depois andou-lhes em torno, dançando e gesticulando num cerimonial estranho, soprando e dizendo-lhes frases. Logo depois desse cerimonial, a clava desprendeu-se dos laços e foi levada pelos ares até desaparecer no horizonte, voltando depois, pelo mesmo caminho, à vista de todos, visando a colocar-se entre as forquilhas, notando-se que estava cheia de sangue”.

Isso no terreno da magia. Na terapêutica eram mestres na arte de curar qualquer doença – muitas das quais, até o momento a medicina oficial tem considerado incuráveis – pelo emprego das plantas, ervas ou raízes. Ao segredo mágico e astral de preparar as plantas curativas, denominavam de caa-yary. 

Caa-yary também era o espírito protetor das plantas medicinais e aquele que se voltava a ele, na arte de curar, não podia nem ter relações com mulher, tal o formidável compromisso que assumia.  

Quando o branco ambicioso quis saber o segredo do caa-yary, os payé, os karayba, diziam que eram o avô da erva – o mate, para despistá-lo. 

Os payé (convém repisarmos) faziam constantemente uma espécie de sessão para fins mediúnicos, ou seja, para evocarem Rá-Anga – os espíritos da luz – a qual denominavam GUAYÚ, que se processava sob cânticos e danças rítmicas (completamente diferentes dessas batucadas que brancos civilizados que se dizem “babás e tatas” fazem, hoje em dia). 

Antes desse ritual mediúnico, tinham um particular cuidado no preparo dos timbó a serem usados, isto é, faziam os defumadores propiciatórios para afastar ANHANGÁ, que era o espírito das almas penadas, atrasadas etc., era, enfim, “mal comparando” o mesmo que o “diabo” dos católicos e o Exu-pagão da quimbanda. 

Essa cerimônia ou ritual dito Guayú era sempre feita, para tirar guayupiá – a feitiçaria, de alguém... 


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