15 de nov. de 2011

Origem da Umbanda - Parte 1 - Raízes Históricas - Os Cultos Africanos



Comecemos por nos reportar à origem histórica, mítica e mística da Umbanda propriamente dita e para isto temos que nos aprofundar no passado de duas “raízes” – uma, é a dos cultos afros e a outra é a “raiz” ameríndia ou de nossos índios, denominada de culto ou adjunto de Jurema. 

Primeiro, vamos qualificar como culto africano a todo sistema religioso que os negros trouxeram para o Brasil, que se subentende como os vários rituais de suas nações de origem, assim como o Nagô, o Kêto, o Gêge, o Angola, o Bantu etc. 

Isso aconteceu, é claro, logo após o descobrimento do Brasil, quando o branco começou a descarregá-los por essas terras brasileiras, como escravos, trazidos de várias regiões da África. 

Qual então o sentido religioso, mítico e místico dos africanos através de seus rituais de nação? 

De um modo geral eram monoteístas, pois adoravam a um DEUS-ÚNICO, chamado, por exemplo, entre os nagôs, de OLORUM e entre os angolenses de ZAMBY ou ZAMBIAPONGI etc. Veneravam também a “deuses”, como emissários desse mesmo Olorum, aos quais denominavam ORIXÁS (estamos exemplificando mais com a predominância nagô (Nota 1 – repetimos: foi, positivamente, estudado, reconhecido, constatado que, desde o princípio da escravidão no Brasil, foram os Nagôs que dominaram o aspecto religioso, lingüístico etc., entre as outras nações negras, especialmente – como escreveu Nina Rodrigues – “na Bahia, os Nagôs assumiram a direção das colônias negras, impuseram-lhes a sua língua e suas crenças etc.”. Citar mais deuses de outros cultos é criar confusão), pois foi a que dominou positivamente, quer no aspecto religioso, quer no da língua, entre as demais nações africanas aqui no Brasil, bem como foi o sistema que mais influenciou – tanto quanto o ameríndio – por dentro dessa corrente humana dita como dos adeptos dos cultos afro-brasileiros). 

Os Orixás, para os africanos, eram (e são ainda) considerados como os senhores de certas FORÇAS ELEMENTAIS ou dos Elementos da Natureza. 

Assim é que ergueram um vasto Panteão de deuses. 

Eis a discriminação simples desses Orixás, com seus respectivos atributos, para que os irmãos umbandistas tenham a noção clara da questão, a fim de, quando chegar a vez, possa discernir com facilidade o que é a Umbanda propriamente dita. 
OS ORIXÁS OU “DEUSES” VENERADOS (concepção dos nagôs)

OBATALÁ – o filho de OLORUM. O pai da humanidade (da nossa, é claro). UM ORIXALÁ, isto é, aquele que está acima dos Orixás, é um grande Deus. Posteriormente, ou seja, aqui no Brasil, recebeu a designação de OXALÁ (termo que é uma contração do outro). Obs.: Já pela influência ou pressão do clero, foi identificado com o SENHOR DO BONFIM, da Bahia, o mesmo que JESUS. Isso foi o começo do chamado sincretismo ou similitude. 

XANGÔ – Deus do Trovão, do Raio, ou seja, do fogo celeste. Dentro do sincretismo passou a ser assimilado a S. Jerônimo da Igreja. 

OGUM – Deus do Ferro, da Guerra, das Demandas. Dentro do sincretismo passou a ser assimilado, ora a Santo Antônio (na Bahia), ora a S. Jorge, em outros estados. 

OXOSSI – Deus da Caça, dos Vegetais etc. Dentro do sincretismo, passou a ser assimilado a S. Sebastião da Igreja. 

YEMANJÁ – Deusa da ÁGUAS. Dentro do sincretismo, passou a ser assimilada à Nossa Senhora da Conceição, da Igreja (Nota 2 – Segundo uma lenda corrente entre os nagôs, dos seios de Yemanjá a dona das águas – nasceram dois rios extensos, enormes, que se uniram, formando uma monstruosa lagoa. Do ventre dessa lagoa, nasceram todos esses Orixás, isto é, menos Obatalá, Ifá e Ibeji, que têm outras lendas, outros conceitos etc.) 

 IFÁ – O mensageiro dos “deuses”. O oráculo dos Orixás. O Adivinhador.  

DADÁ - Deusa dos Vegetais. 

OLOKUM – Deus do Mar. 

OKÔ – Deus da Agricultura. 

OLOCHÁ – Deusa dos Lagos. 

OBÁ – Deusa do Rio Oba. 

AGÊ-CHALAGÁ – Deus da Saúde. 

OIÁ – Deusa do Rio Níger. 

CHAPANÃ – Deus da varíola, da peste etc. 

OKÊ – Deus das Montanhas. 

OGÊ-CHALUGÁ (com outro atributo), AJÁ ou Aroni, OXANBY ou Oxanin – os deuses da medicina – os que podiam curar etc. 

Bem, meu irmão umbandista, por aí você já pode ir começando a analisar os aspectos dessa “raiz” e mesmo o porquê de somente cinco desses Orixás ou desses termos representativos de Forças ou Potências, milenários, tradicionais, remotíssimos, terem sidos conservados no conceito interno, oculto, ou melhor, de adaptação oculta do astral, por dentro da Lei de Umbanda, quando chegarmos à questão das verdadeiras Linhas ou das Sete Vibrações Originais dessa Lei. 

Assim é que, em seus rituais de nação – estamos exemplificando sempre com de nagô – tocavam o adarrum, espécie de toque especial de atabaques, para chamar seus Orixás. Esses atabaques eram preparados cuidadosamente, dentro de certo segredo, tudo envolvendo cânticos, ervas e certa fase da lua e tinham a denominação de RUM (que era o maior), RUMPI (que era o de tamanho médio) e o menor dos três, LÊ. Esse toque especial com esses três atabaques era para que se desse o transe (o animismo fetichista – de Nina Rodrigues) mediúnico, quer no Babalorixá, quer numa filha ou filho-de-santo. Tudo isso era acompanhado de danças expressivas (apropriadas a cada Orixá), palmas, cânticos, ditos também, como pontos etc. 

E era sempre assim, dentro de um ritual rotineiro, que o Babalorixá ou o Babá – depois chamado de “pai-de-santo” e a Ialorixá, também chamada de “mãe-de-santo” ou o mesmo uma Iaô, o mesmo que inicianda ou “filha-de-santo” etc., podiam ficar possuídos pelo seu “orixá”... 

Todavia, se qualquer um desses “caísse com o santo” (o mesmo que se entender como ficar mediunizado) ou com seu “orixá”, todos sabiam que não era o Orixá ancestral – o deus Xangô, Ogum, Oxossi etc. Era um enviado do Orixá, porém representava a sua força.
Quer o Orixá, que para eles era (e é) um ser-espiritual altamente situado perante Olorum ou Deus, quer o seu enviado (o Orixá intermediário) que, para eles, também era um espírito muito elevado, nunca tinham encarnado, isto é, jamais haviam passado pela condição humana. 

Todo esse ritual, com suas evocações, suas práticas, era (e ainda deve ser) quase sempre acompanhado de oferendas simples ou especiais – chamada depois de “comida-de-santo” – tudo de acordo com a ocasião da festa ou da cerimônia que se fizesse necessário. Também era comum, antes de iniciar o ritual propriamente dito, fazer um ebó, espécie de despacho, que envolvia, desde o sacrifício de animais até o seu aspecto mais simples, com pipocas e outras coisas. 

Então cremos ter ficado bem claro, nessas linhas gerais, que os africanos trouxeram suas concepções bem definidas, com seus deuses, seus rituais, suas práticas e, especialmente, todo um sistema de oferendas aos Orixás, que envolviam elementos materiais, inclusive o sacrifício de animais, com sangue etc. (essa questão de oferendas ou “comida-de-santo” será analisada e esclarecida na parte que trata de magia e oferendas).

Agora, meus irmãos umbandistas – especialmente a você que se diz ou é Babá, Tata ou médium-chefe, cremos que já chegou ao seguinte entendimento: No culto africano puro, em seus ritos, só evocavam Orixás ou seja, os espíritos enviados deles, que (estavam convencidos disso) nunca tinham encarnado, porque, aos espíritos ditos como EGUNS (ou egungum), eles repeliam, ou melhor, não eram aceitos de forma alguma. Como EGUNS (guarde bem isso), consideravam ou qualificavam a todos os espíritos de seus antepassados, as almas dos mortos, enfim, a todos que já tinham sofrido o processo da encarnação. 

PORTANTO, OS ESPÍRITOS DE CABOCLOS, PRETOS-VELHOS, CRIANÇAS ETC., SERIAM REPELIDOS, PORQUE ERAM EGUNS. Todos esses são “espíritos-velhos” porque já encarnaram dezenas, centenas de vezes. 


0 comentários:

Postar um comentário