Na estrutura da vida psíquica do indivíduo, a consciência do eu pode mudar de nível, propiciando-lhe galgar avançados estados de lucidez e integração, que variam desde os mais primários até os mais transcendentes.
Certamente, as primeiras informações a respeito dos estados alterados de consciência provêm da Vedanta, a escritura religiosa mais antiga do mundo, na qual estão insertos os ensinamentos filosóficos da tradição hindu.
Mais tarde, entre outros, o pensador russo Gurdjieff, respeitado mestre espiritual, examinou a questão, propondo as alterações de níveis de consciência mediante exercícios e induções que ora chamaríamos transpessoais.
Segundo a moderna psicologia transpessoal, é possível lograr-se uma ampliação da consciência além das fronteiras habituais do ego, superando as faixas do espaço e do tempo, conforme as percepções tridimensionais.
Consideram-se normais alguns dos estados de consciência, nos quais ocorrem os fenômenos habituais, situando-se aqueloutros, os parapsicológicos e os mediúnicos, como de natureza patológica.
Observações acuradas ao lado de pacientes induzidos por sugestão, concentração, meditação, terapias mediante a aplicação de drogas, concluíram pela ocorrência de fenômenos transcendentais nos níveis elevados de consciência alterada.
Exceção feita aos delírios, às alucinações, às ilusões, surgem, na área das manifestações subjetivas, as ocorrências de clarividência, de premonição, de clariaudiência, de desdobramento, abrindo espaço para as comunicações mediúnicas, tais a psicografia, a psicofonia, a psicotografia, etc., em cujos processos a interferência do desencarnado se faz indispensável e atuante.
Não eliminamos a possibilidade desses fenômenos ocorrerem também em psicopatas, tendo como origem o inter-relacionamento espiritual, sem que se apresentem na condição de aberrações mentais.
Outras vezes, tais alterações de consciência facultam a ampliação do eu, facilitando o intercâmbio com inteligências desencarnadas, sem ou mediante a ocorrência da perda de lucidez, de identidade, de unidade do eu pensante.
A linha divisória que assinala a transferência do estado paranormal para o patológico é muito sutil, dando margem à crença de que alguns níveis de consciência mística sejam confundidos com distonias esquizofrênicas.
AS formas corretas para distinguir-se um do outro estado são a observação da própria ocorrência, o comportamento do indivíduo na forma de encarar a realidade objetiva, a sua maneira de relacionar-se com o grupo social no qual se encontra, as suas manifestações de ansiedade e de medo.
A realidade total é uma decorrência da concepção do universo e da consciência como conglomerados de energias, em níveis cada vez mais complexos, em um mecanismo de harmônica interpenetração.
Assim, embora a variação de escolas psicológicas que estudam o assunto, poderíamos estabelecer cinco níveis de consciência sem delimitarmos as suas fronteiras, verificando aquelas nas quais ocorrem as manifestações mediúnicas, de que a doutrina espírita se faz o admirável campo de estudo metodológico objetivando a plenitude do ser.
Em uma cartografia inspirada no sistema de psicologia e espiritismo, merecem exame, embora rápido, esses diferentes estados de consciência.
No primeiro, denominado consciência do sono, há uma total ausência de idealismo e as atividades do ser estão reduzidas, praticamente aos automatismos de natureza fisiológica: manifestações instintivas, respiração, assimilação sem um real conhecimento das ocorrências. O indivíduo dorme, como, procria, ausente dos procedimentos da lógica, da razão. Poderíamos denominar este como um estado de sono sem sonhos.
Inevitavelmente, através do processo evolutivo inexplorável que as reencarnações proporcionam, o homem transita para o estado intermediário, o de consciência em despertamento ou com sonhos, no qual surgem as primeiras expressões de idealismo, de interesse, de luta para a aquisição de valores imediatos, considerados indispensáveis à sobrevivência no labor cotidiano. Apresenta-se um alargamento de horizontes, embora timidamente, que permite vislumbrar o prazer além da sensação, a comodidade, os sinais primeiras da beleza, da arte, do conhecimento, da fé.
Os sonhos se manifestam, desvelando impressões do inconsciente e dos contatos espirituais, embora nebulosos, favorecendo a ativação de mais amplas percepções.
Ocorre, a partir dessa fase, o nível de consciência desperta ou de identificação, no qual o homem começa a observar-se a si mesmo e ao seu próximo, ampliando o grau de relacionamento social e emocional, aspirando pelos ideais de engrandecimento humano, lutando com lucidez pela ampliação dos valores éticos, descobrindo metas além do imediatismo automatista e avançando com entusiasmo na defesa dos seus valores de enobrecimento.
Essa identificação possibilita uma revolução da consciência, a fim de que possa voltar-se para a interiorização, para a percepção subjetiva da realidade.
Lentamente, a consciência de si mesmo ou transcendência do eu assoma e predomina em relação às expressões do mundo exterior.
O homem orgânico, porém, é uma “máquina com funções”, que devem ser educadas, bem dirigidas pelo espírito que nela habita, a fim de, mergulhando na sua transcendência, poder encontrar-se.
A princípio, são momentos breves que se amiudam, ensejando realizações plenificadoras, que o libertam das constrições do invólucro material.
As funções, por automáticas que são, instintivas, motoras, sexuais, do intelecto e da emoção, devem ser canalizadas e direcionadas para a aquisição da harmonia que deve predominar no soma, ensejando a expansão paranormal, o intercâmbio com as forças vivas do universo além da dimensão material.
Abstraindo-se do mundo exterior, a consciência sintoniza com as inteligências desencarnadas, propiciando as comunicações lúcidas – em estado sonambúlico, de inconsciência ou não – nas quais a identificação dos espíritos se faz com o máximo de resultados positivos possíveis.
Nesse nível de consciência, a moralização do homem torna-o alvo dos espíritos nobres que o elegem para ministérios relevantes, não necessária e obrigatoriamente de projeção na comunidade, de relevo social, embora também aí ocorram, exigindo maior soma de abnegação, de elevação moral, a fim de enfrentar os perigos e perturbações que as posições de destaque exigem daqueles que as assumem.
É nesse nível que o impositivo da conduta cristã se torna o recurso saudável e valioso para quem desejar o êxito do empreendimento evolutivo.
Tão habitual se tornará a vivência nesse estado de consciência, que logo será alcançado o estágio mais elevado, o de consciência objetiva, ou cósmica, facultando um absoluto controle das funções orgânicas e propiciando-se o êxtase – a catalepsia consciente – que enseja a libertação dos limites humanos com penetração tranqüila no cosmo.
O espírito encarnado e lúcido, nesse nível, facilmente se emancipa das amarras físicas sem as romper e intercambia com outros, superando os condicionamentos da reencarnação.
Somente os grandes mestres e guias da humanidade, em razão das suas conquistas pretéritas, logram conscientemente, e com freqüência, esse nível de libertação cósmica, tais Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Swendenborg, Edgar Cayce, Gandhi, ou, sob outras condições de concentração, da Vinci, Miguel Ângelo, Pascal, Einstein, Hansen, ou Galileu, Newton, Copérnico, capazes de se esquecerem de si mesmos durante suas pesquisas e observações...
É um nível de consciência que exige treinamento cuidadoso, sacrifício pessoal, abnegação extremada, critério de objetivo, morte na vida...A psicologia criativa, embora com outras conclusões, reconhece esses cinco níveis de consciência com as suas variações naturais.
Pode o homem alcançar ou transitar momentaneamente por alguns dos três últimos estados de consciência enquanto estagia noutro, não permanecendo senão na faixa que lhe corresponde o treinamento ou a aquisição já realizada.
Vale, porém ressaltar, que a conquista dos vários níveis de consciência é feita passo a passo, com esforço e dedicação reunidos. Ocorrendo recuos ou paradas, devem ser considerados normais esses fenômenos, até que o treinamento se incorpore aos hábitos, facultando a aprendizagem com emulação sempre mais forte para a conquista do degrau superior.
A educação da mediunidade paralelamente enseja a alegria de o indivíduo ser feliz pelo bem que pode realizar e pelo prazer de experimentar o bem que se recebe.
Os fenômenos mediúnicos, no entanto, podem ocorrer em qualquer nível de consciência, em particular quando se tratam de manifestações obsessivas, que irrompem em crises de violência ou de depressão, face às dívidas morais existentes entre os litigantes, ora em processo de reajustamento espiritual.
O exercício da mediunidade saudável, todavia, manifesta-se em harmonia com o nível de consciência de si mesmo, expressando a valiosa conquista do espírito encarnado no seu processo de evolução.
Ocorrem, às vezes, manifestações mediúnicas de prova, em níveis inferiores de consciência, que o sensitivo pode elevar utilizando-se dos valores morais e do correto treinamento, assim facilitando-lhe a sintonia com a vida pulsante fora dos limites materiais.
Jesus - Cristo, o Médium por Excelência, por estagiar em nível de consciência sublime, sintonizava continuamente com Deus, não obstante, após a convivência com o povo, sempre se afastava da balbúrdia para orar, meditar, penetrar na transcendência do cosmo em silêncio e solidão.