13 de mai. de 2013

Crescendo com as derrotas




Não foram poucas as discussões com amigos em épocas de copa do mundo quando eu declarava estar torcendo contra a seleção brasileira. Era chamado de "vira-casaca" à traidor da pátria, passando por ofensas e ameaças de violência que, fosse um não amigo a declarar tal coisa, imagino se cumprissem.

Difícil explicar que, embora apreciador de futebol e brasileiro, eu entendia que era melhor para o Brasil a derrota da seleção. Torcer pelo Brasil e torcer pela seleção, não apenas não são a mesma coisa, como podem ser completamente antagônicos.

Vitórias esportivas tendem a produzir a falsa sensação de que o país vai bem, o que nem sempre é verdade. Sentimo-nos campeões juntamente com os atletas milionários que supostamente nos representam.

No meu modesto entendimento, essa euforia vitoriosa gerada por uma competição esportiva poderia ser prejudicial às questões políticas e sociais em curso no país, poderia gerar uma felicidade e um aumento de autoestima indesejável para quem percebe a necessidade de mudanças, pois as mudanças vem da insatisfação.

Poucas coisas atrasam tanto nosso progresso quanto a sensação de que tudo está bem! A euforia das conquistas a curto prazo tem potencial para nos fazer perder de vista objetivos à longo prazo, mais estáveis e duradouros.

Hoje me deparei com um texto espírita do médium Benjamin Teixeira em diálogo com o espírito Eugênia que explica com muita propriedade o que eu jamais consegui fazer entender aos meus amigos. Segue o texto...

"Eugênia, o Brasil perdeu a Copa do Mundo deste ano de 2006. Tem algo a dizer sobre isso?

- Sim, que as decepções fomentam aprendizado, principalmente quando um sentimento de euforia leva indivíduos e coletividades a se suporem invictos ou inatingíveis. A falibilidade é um dos apanágios essenciais da natureza humana e, ironicamente, um dos mais esquecidos. É assunto pacífico, no plano intelectual, a ideia de que todos portam defeitos e podem errar. Mas uma expressiva parcela da população age como se fosse convencida de que, em verdade, não é passível de cometer equívocos.

Fala-se em fraude do resultado, principalmente quando jogadores parecem deslizar no campo de futebol, como a provocar deliberadamente a perda da partida.

- Não podemos ratificar nem denegar acusações dessa ordem, que fogem às funções da manifestação do mundo espiritual, na esfera física de vida, mas gostaríamos de lembrar que, amiúde, outras forças também atuam, em atividades complexíssimas, que envolvem tantas variáveis psicológicas e emocionais de vários participantes, como numa simples partida de futebol, e uma delas é a força da “alma coletiva”, que, no caso do time da “seleção brasileira”, estava mal formada e, digamos, vulnerável a outras influências, como as energias “inimigas” da torcida contrária, com indução desagregadora sobre a harmonia da equipe de atletas brasileiros. Por outro lado, indispensável não descartar a Interferência Divina, que pode desejar uma situação menos ou mais favorável a certas implicações de envergadura mais grave, como as de ordem política. Não podemos falar mais claramente que isso, mas creio que nossos leitores podem entender o que pretendemos dizer.

Significa, então, dizer que as “implicações políticas” estão definidas no sentido contrário ao provável de acontecer, caso ganhássemos a Copa?

- Não afirmei isso. Disse que a Divina Providência talvez desejasse uma “situação menos ou mais favorável”, o que quer dizer: onde possa haver maior liberdade das consciências para uma escolha lúcida e, por conseguinte, mais responsável, o que também corresponde a afirmar que ninguém poderá reclamar de corolários de uma má escolha, que terá sido mais consciente, já que a euforia do estado de vitória poderia compelir a nação a movimentos inconscientes de massa muito mais determinantes.
Você afirmou que existe a programação de o Brasil ganhar sucessivas vezes a Copa do Mundo.

Não só existe como de fato o Brasil continua sendo o campeão mundial; além disso, outros torneios futuros darão continuidade a essa tendência que, todavia, é óbvio, depende inexoravelmente das iniciativas de responsabilidade e empenho dos encarnados (inviolável sempre será o livre-arbítrio de cada criatura, bem como de todo agrupamento humano).

Mais algo deseja dizer sobre isso?

- Que cada um aplique a ocorrência do desgosto nacional a si mesmo. É muito comum, em ocorrências externas, o indivíduo supor que nada existe com relação a si mesmo, e, rigorosamente, podemos afirmar: qualquer circunstância ou evento da existência traz potencialmente lições embutidas que precisam ser extraídas, por cada espectador ou participante. Quantas vezes (para citar alguns exemplos de contextos existenciais em que a derrota brasileira na Copa pode ser aplicada), relações são tidas como certas, ou também o sucesso profissional considerado garantido, ou a própria saúde tratada como inexpugnável, e, por conseqüência de tais ilusões de “vitória certa”, uma série de relaxamentos irresponsáveis são cometidos, com prejuízos amiúde irreversíveis para o futuro de uma pessoa? No domínio coletivo, inclusive, o brasileiro, que ainda tem uma alma popular ingênua (poderíamos também chamar esta “alma do povo” de “inconsciente coletivo nacional”), muito pode auferir de aprendizado e estímulo ao amadurecimento com esta experiência. Em suma, podemos asseverar, categoricamente, ter sido mais positiva para o país, pelos motivos acima apresentados, em termos de resultados a médio e longo prazo, a derrota que o triunfo nesta Copa do Mundo.

(Diálogo psíquico travado com o Médium, em 9 de julho de 2006. Revisão de Delano Mothé.)"

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