13 de mai. de 2011

O Arrogante pensa que sabe tudo, o humilde aprende…

A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.”    Miguel de Cervantes
puzzle
Um homem é a soma de suas crenças, seu discurso e suas atitudes. Neste contexto, é natural que ao professar aquilo que acredita, esteja imbuído de convicção, seguro dos valores que elegeu enquanto suas verdades pessoais. Não raro, defendemos nossas opiniões com a certeza de que nosso ponto de vista é o correto e o do nosso interlocutor (quando é o caso) o errado. Nossa defensiva trata de descartar qualquer possibilidade de duas ou mais verdades coexistirem harmoniosamente, de completarem-se e resultarem na descoberta de uma verdade ainda maior. 

Pense por um momento na vastidão do universo e em sua complexidade. Parece-lhe viável que toda a realidade que nos cerca possa ser explicada em um único livro? Que tantas diferentes culturas sejam capazes de assimilar este conhecimento da mesma maneira?

Se o conhecimento produzido pelo homem ao longo de apenas alguns milhares de anos precisou ser fragmentado em tantas disciplinas que quase nem dialogam entre si, que tipo de raciocínio nos leva a acreditar que os segredos da existência possam ser revelados em uma única filosofia, religião ou o que for? 

Da mesma maneira que no mundo material, cada disciplina abrange um determinado território do saber humano - e mesmo as disciplinas se subdividem em tantas outras - também assim tem sido no plano espiritual. Diferentes crenças e religiões tem se prestado a levar a determinados tipos de pessoas o conhecimento que lhes seria possível assimilar e que lhes era necessário mediante suas características culturais, sociais, espirituais e circunstanciais. 

É desta forma que surge, por exemplo, a Umbanda como um tipo de espiritismo mais popular que o Kardecismo. Da mesma maneira as Pentecostais se mostram mais eficazes em trazer para a religiosidade pessoas simples e que necessitam de uma linguagem mais direta e de uma moral mais rígida para se integrarem. A diversidade de linguagens e mensagens precisa ser proporcional à própria diversidade humana. Para alcançar os ouvidos e mentes é preciso alcançar primeiro o entendimento, falar o mesmo idioma e revelar apenas o conteúdo que pode ser assimilado. Também na escola não se ensina matérias complexas para quem ainda não aprendeu a ler.

Já que utilizei a metáfora da escola, me ocorreu perguntar “qual a principal característica de um aluno?” 

Se o objetivo é aprender, sua principal característica é a humildade. O oposto disso é a arrogância que acredita que já sabe tudo. 

Ao longo de minha vida, passei por diversas cidades e convivi com pessoas muito espiritualizadas, tanto em suas convicções quanto em seu comportamento diário. Em sua maioria eram pessoas estudiosas e que buscavam o conhecimento, mas conheci também pessoas simples e de profunda sabedoria. O que a maioria destas pessoas tinha em comum - a despeito de seu desenvolvimento espiritual e/ou intelectual e de todo conhecimento que possuíam - era o fato de que todo seu conhecimento se baseava em apenas alguns aspectos da espiritualidade e era totalmente fechado para outros. Vi pessoas participarem entusiasmadas de um ritual muito semelhante à Umbanda dentro de uma reserva indígena e julgarem o espiritismo de origem africana com preconceito. Vi pessoas com muito conhecimento acerca de Chakras e plexos e nenhum acerca de seres e dimensões e o oposto também.

Na ciência, tem predominado o pensamento cartesiano, que fragmenta o conhecimento e cria especialistas incomunicáveis fora de seu campo de estudo. Mas isso está mudando e, a Teoria da Complexidade de Edgar Morin vem conquistando cada vez mais adeptos.

Há algumas décadas a expressão “holística” ganhou força, representando uma visão do todo como maior do que a soma de suas partes. Este termo tem sido desde então utilizado na medicina, nas terapias, nas empresas, e na espiritualidade, ressaltando uma necessidade de reunirmos o saber fragmentado em um saber maior, onde os fragmentos interagem entre si.

Na medicina, sabe-se que aspectos psicológicos influenciam órgãos físicos, causam dores e doenças. Profissionais de diferentes especialidades são necessários em cirurgias complexas em razão da comunicação entre diferentes órgãos.

Nas empresas, investe-se mais na qualidade de vida do funcionário por entender que estes produzirão melhor se estiverem felizes. As terapias já não baseiam-se mais em uma técnica apenas, e misturam oráculosapometriareiki e - se percebem a necessidade - encaminham para casas espíritas para que sejam tratados também a mediunidade e os seres (guias e obsessores). Terapias de grupo como biodanza e musicoterapia utilizam técnicas de oficinas teatrais e misturam respiração, movimento, conscientização corporal, meditação e interatividade entre os participantes. 

É própria de nosso tempo a multidisciplinaridade. A chamada geração C (nascidos após 1990) cresceu sob as ideologias da Web, de acesso livre, cooperação, troca e compartilhamento de informações, e o mesmo farão as gerações posteriores. Isso provocará alterações profundas em nossa sociedade.

No campo da espiritualidade como no restante, cada vez mais as pessoas cruzarão informações gerando um novo conhecimento maior que a soma de suas partes. Estamos mais capacitados a compreender estas conexões múltiplas, nosso cérebro já não estranha a coexistência de informações de diferentes origens e, isto é também um exercício de humildade. Compreender o novo conhecimento implica em aceitar que o velho conhecimento não estava completo, é neste ponto que inicia a busca por perceber o todo. 

Todo preconceito é arrogante e contraproducente, impede o aprendizado e a evolução. Quem acha que já sabe o suficiente está se condenando a ficar defasado e obsoleto diante das necessidades complexas do tempo presente e do vindouro.

0 comentários:

Postar um comentário