(Retirado do livro “Diálogos com um Executor” de Rubens Saraceni)
Ação de um Guardião transformador e descrição de obsessões e carmas adquiridos
Parte 3 - O Resgate
E o homem à minha frente sumiu. O silêncio tomou conta do abismo e o pranto começou a surgir em muitos pontos. Pouco a pouco estávamos, todos nós, chorando. Por incrível que possa parecer, as suas palavras foram ouvidas por todos os condenados do abismo. Como isto aconteceu, não sei, mas imagino que era a Lei agindo através dele, para nos tornar cientes de que à prova final havia começado.
E ela veio quando nós menos esperávamos. Como por encanto, surgiram as cobras negras, e a provocação se iniciou. Todos os argumentos foram utilizados, e quando eles falhavam vinha o castigo. Muitos sucumbiram neste momento e sumiram do abismo. Nunca mais os vi, com muitos eu já havia me familiarizado.
Fomos castigados pelo veneno dolorido daquelas cobras; a loucura e o pânico se instalaram em nosso meio. Quanto tempo durou, eu não sei, pois como já disse, lá não havia dia ou noite.
Mas certo dia, ou noite, alguém surgiu no abismo, e as cobras negras sumiram como que por encanto.
Eu não podia ver quase nada porque estava quase cego, mas vi uma luz azul muito intensa que se irradiava do ser luminoso que acabara de chegar. Pouco a pouco, os gritos foram cessando e somente os gemidos de dor se faziam ouvir. O tempo passava e nada se alterava: o ser iluminado não saia do seu lugar.
Hoje eu sei! Aquela entidade muito luminosa estava velando por nós enquanto Deus não enviava o socorro final: o alívio protetor Ele já nos havia enviado.
Então veio o momento do resgate libertador.
Um grupo enorme de espíritos luminosos chegou ao nosso abismo e começou a cuidar de seus habitantes. Eu fiquei observando a movimentação, e de meus olhos quase cegos lágrimas jorravam. Eu sabia que Deus ouvira nossos pedidos de perdão e socorro. Ele, e só Ele, que era o único que nos restara, ouvira nossos clamores e nos enviava o Seu bendito socorro.
Vi como eles se movimentavam no meio de tantos espíritos reduzidos a farrapos retorcidos, e os consolavam, aplicando bálsamos em suas chagas. Pouco a pouco os gemidos foram cessando. Em dado instante, o tal Sete Guizos veio para perto de mim e falou:
- Como vai, executor? .
- Pior que da última vez, Sete Guizos.
- Eu não penso assim. Você suportou sua prova final e agora, é tudo uma questão de tempo, o grupo logo chegará aqui.
- Quem são os amigos que vêm nos auxiliar?
- São socorristas que atuam a partir da crosta terrestre.
- Para onde nos levarão?
- Só eles sabem. Mas acho que é melhor do que ficar neste abismo.
Ainda ficamos conversando por um longo tempo, até que ele foi chamado.
- Até a vista, executor! É hora de levarmos aqueles que já receberam os primeiros socorros. Voltaremos amanhã à noite.
- Como assim?
- Somente poderemos voltar para buscar outros ao anoitecer.
- Está certo, amigo.
Eles se foram, e nós, uma multidão, ficamos gemendo de dor e ansiedade pelo socorro.
Como foi longa a espera pelo retomo dos socorristas, mas eles voltaram e reiniciaram os trabalhos de resgate. Pouco a pouco estavam se aproximando de nós. À medida que vinham para mais perto, maior era a ansiedade.
Quando eu consegui vê-los perfeitamente, assustei-me. Vi entre eles justamente aquele que eu jurara arrancar da carne e fazê-lo meu escravo.
Sim, meu amigo. Era você mesmo quem estava no meio deles. Vi vários dos que o protegiam à direita. Eu os conhecia dos tempos em que vigiava seus passos à espera de uma chance para executá-lo. Vi os lanceiros vestidos com suas couraças. Vi as mulheres de branco, os índios e os negros.
Eu via a movimentação incessante de todos, mas a que mais me incomodava era a sua, porque eu temia ser visto por você. Temia que se me visse, viesse a me denunciar, e que me deixassem abandonado ali para sempre.
Pouco a pouco chegaram até nós, e eu vi como um dê seus protetores usava de sua energia vibratória para energizar aos mais atingidos pelo castigo Ele incorporava em você e ia tocando o mental daqueles que estavam caídos à sua frente. De imediato, o atingido por aquela descarga energética luminosa se acalmava e parava de gemer de dor.
Isto continuou até que chegassem bem próximos a nós. Mas alguém avisou:
- Por esta noite chega, senão o esgotaremos totalmente.
- Esta certo! Amanhã voltaremos e levaremos os restantes.
Mais uma vez eu fiquei chorando de dor, medo e vergonha. Dor pelos castigos sofridos, medo de ser reconhecido e ser, abandonado ali, e finalmente vergonha porque eram os mesmos que nós havíamos prejudicado que vinham nos resgatar.
Deus, numa prova inconteste do Seu poder, nos fazia ver que aquele que nós mais odiamos é quem se irá se dignar a nos estender sua mão, caso deixemos de odiá-lo.
Nova espera angustiante até o retorno do grupo socorrista. Mas eles voltaram, e nós, num arremedo de sorriso, nos alegramos com sua chegada.
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