18 de ago. de 2011

Ação de um Guardião transformador e descrição de obsessões e carmas adquiridos - Parte 2 - A Colheita

(Retirado do livro “Diálogos com um Executor” de Rubens Saraceni)
(Continuação de  Parte 1 - A Lei se Confirma)

Ação de um Guardião transformador e descrição de obsessões e carmas adquiridos




Parte 2 - A Colheita


Os dias se passaram. Talvez fosse melhor dizer "o tempo passava", pois dias como aqui você, conhece lá não existem. O tempo passava, e de vez em quando um rastejante vinha nos ver. Ficava um longo tempo nos vigiando, e depois se afastava. Isto se c repetiu muitas vezes, sem nos incomodar uma vez sequer.
Eu reuni à minha volta meu grupo familiar, e um procurava auxiliar o outro. Foi um tempo de muito desespero pois de vez em quando entravam alguns seres horríveis e levavam alguns daqueles infelizes que, como nós, estavam reduzidos a nada. Eles saiam gargalhando e os escolhidos chorando, porque eram conduzidos sob correntes e chicotadas, caso não obedecessem.
Foram tempos de angústia, aflição, dor e compaixão.
Compaixão pelos que, como cordeiros conduzidos ao matadouro, nada podiam fazer.
Não sei o que se passava na mente dos outros, mas a mim causava muita pena ver como sofríamos e como éramos tratados sem a menor delicadeza. A brutalidade era regra ali, e eu, que um tempo brutalizava minhas vítimas, agora via como era terrível ouvir os gritos de medo e dor, ver, o castigo implacável ser aplicado contra quem nada podia fazer, e ter que se calar porque senão seria muito pior para todos.
Eu vi espíritos humanos já degradados ao extremo e em franca regressão para formas animalescas virem vampirizar as últimas energias dos infelizes prisioneiros do abismo. Mal tínhamos energias para rastejar e suportar nossa pena, e ainda assim vinham nos vampirizar numa ordem oposta à da Luz.
Sim, na Luz o de cima doa sua luz ao de baixo para vê-lo elevar-se. Mas nas Trevas, o de baixo tira o que restar de força vibratória do de cima para alimentar-se e vê-lo cair ainda mais.
São os opostos, e nós estávamos no lado escuro do mundo invisível.
Para ali vinham aqueles que tinham contas negras a ajustar e saciavam sua sede de vingança milenar. Vinham alguns que eu julgava serem sádicos desequilibrados, que torturavam unicamente pelo prazer de ouvir gritos de dor, contorções e espasmos dos torturados.

Sim, ninguém colhe o que não plantou. Mas aquilo que semeou, colhe até o último grão

Então, eu ouvi um som que arrepiou-me por inteiro Ainda dei um grito de horror.
As cascavéis!
Centenas delas invadiam o abismo que habitávamos. Chacoalhavam seus guizos infernais, e nos deixavam horrorizados.
E aquela voz que eu tanto temia, se fez ouvir:
- Como vai, chefe? Ainda restou algo para mim, do outrora tão frio e cruel executor? Sabia que o guardião transformador entregou este vale para mim? Agora tudo isto é meu, executor!
Este abismo é todo meu a partir de agora, e vou ver como faço para esvaziá-lo O guardião chefe quer vê-lo vazio porque existem alguns milhares de caídos à espera de um lugar para iniciarem suas transformações.
- Que transformação, réptil?
- Em algo melhor ou pior do que eram antes de serem postos sob sua guarda.
- Como alguém pode melhorar neste inferno, réptil?
- Você teria coragem de executar mais alguém?
- Não. Hoje eu me arrependo de ter feito tal coisa.
- Você teria coragem de interferir no carma de mais alguém, e só piorá-lo?
- Não. Estou pagando o preço por ter ousado fazê-lo com minha filha.
- Então você já melhorou, chefe. Ainda não tem noção de tudo o que lhe ocorreu, mas já se transformou. Até me pediu para executá-lo! Você, que era um executor, teve a coragem de pedir a uma cascavel que lhe cravasse as presas para que parasse de sofrer.
Neste ponto está a sua transformação para pior, porque se não pode tirar a vida de ninguém, então não pode tirar ou pedir que tirem a sua, senão estará, afrontando a Lei da Vida. Entendeu chefe?
- Sim réptil. A única maneira é suportarmos nosso tormento calados.
- Também estará indo para pior, porque o momento é de olhar para o alto, e não de se voltar para a auto flagelação.
- Quem é você para falar em Deus?
- Eu sou alguém que caiu e teve quem o acolhesse enquanto ainda era tempo. Hoje eu sou o que sou, mas sei porque sou assim e o que devo fazer para não cair mais. Sei também o que devo fazer para saldar um pouco dos meus débitos.
- Quem o ajudou, réptil?
- Em princípio foi um espírito humano igual a todos nós, mas com uma diferença fundamental: ele era, e ainda é, um instrumento de Deus e de sua Lei Transformadora.
- Chame-o para ajudar-nos, amigo Sete Guizos.
- Não posso, executor.
- Por que não?
- Ele é o mesmo que você, sua filha e a sua amiga feiticeira tentaram arrancar da carne.
-Não!!!
- É isto mesmo, chefe. Ele o ajudou muito enquanto estava no mundo dos espíritos, mas agora está na carne e nada poderá fazer por você.
- Como posso obter ajuda, meu amigo?
- Ore a Deus, e talvez alguém ligado a você em sua última, ou numa outra encarnação venha socorrê-lo sob o amparo da Lei.
- Só restaram minha filha Eliana e meus pais. Amigos, tive apenas aqueles que de mim se aproveitaram enquanto tive dinheiro.
- Então você está mal, chefe. Sua filha está num local para onde são levados os espíritos de crianças que não têm pais, e quanto aos seus pais, bem, eles já reencarnaram e muito menos podem fazer por você, pois ainda são crianças.
- Meu Deus! - exclamei chorando - Não tenho a quem recorrer.
- Como não chefe? Acaba de pronunciar o nome d’Ele em desespero
- Tem razão, amigo cascavel. Só me resta Deus.
- A todos os habitantes deste lugar, só resta Deus, ou a perdição total.
- Como assim?
- Somente dois seres imortais, invisíveis, onipotentes e oniscientes que vivem no interior de todo espírito humano podem ouvir aos que chegaram onde vocês chegaram.
- Você diz haver dois?
- É isto mesmo, chefe. Em seu ser imortal vivem em equilíbrio o poder de fazer o bem, e o poder de fazer o mal não é verdade?
- Sim.
- E tem o poder de construir ou destruir, de abençoar ou amaldiçoar, etc., não é mesmo?
- Sim.
- Então, vive em seu mental o poder de se fazer ouvir por Deus, nas suas ações nobres, e também pelo senhor das Trevas, em suas ações más, não é mesmo?
- Sim.
- Então clame a um dos dois, e sairá deste abismo mais dias, menos dias.
- O que devo fazer, Sete Guizos? A quem eu clamo para ser ouvido rapidamente?
- Sou um péssimo conselheiro, executor! Lembra-se dos dois homens que velavam por sua filha Priscila?
- Sim, mas muito vagamente.
- Pois eu sou um deles, executor.
E a cascavel voltou à sua forma humana, e eu vi um dos dois homens que tentavam protegê-la e guiá-la. Então eu lhe perguntei:
- Quem era o outro?
- O meu companheiro Sete Presas.
Ele chamou o seu companheiro que conversava com a feiticeira, e então vi os dois que tentaram me dissuadir de interferir no carma de minha filha.
- É isto, chefe! Nós tentávamos fazer o nosso trabalho como nos havia sido ordenado pelo nosso chefe na Luz, mas você se deixou levar pelo que habita o lado negro do seu mental. Azar o seu, não?
- Sim meu amigo, muito azar.
- Ou será ignorância?
- Também.
- Não terá sido por maldade, insensibilidade ou ciúmes, chefe?
- Certamente que sim, Sete Guizos.
- Então clame a um dos dois, chefe. Lembre-se que quando você clamou pelo das Trevas o auxílio veio rapidamente, não é mesmo?
- Isto é verdade, mas eu só piorei a situação para todos nós.
- Pois é isso, chefe. Clame ao da Luz e certamente irá se clarear, assim como tudo à sua volta. Se clamares ao das Trevas, logo tudo se escurecerá.
- Eu escureci, e por isto estou sofrendo tanto, e não aliviei o sofrimento de ninguém.
- Agora já sabe, chefe. Você é livre para escolher: se quiser clame ao seu lado escuro, e logo sairá deste abismo.
- Mas apenas iniciarei uma nova queda.
- Isso é um problema, não?
- Como assim?
- É mais fácil descer que subir. Se quiser subir, terá que apanhar pedra por pedra e construir a torre que o elevará desse abismo negro em que se lançou pela vivenciação dos vícios das Trevas. Terá que erguê-la até uma altura onde exista a verdadeira claridade da razão e do saber.
- Você conhece os mistérios sagrados, Sete Guizos. Como pode saber tanto, se ainda é um réptil?
- Nem todos que você vê na forma de uma cobra são o que aparentam ser. Usam esta aparência pois assim podem rastejar até os mais profundos abismos e recolher as pedras de suas torres, que os elevarão até a claridade da verdadeira luz da verdade.
Eu, como uma cascavel, posso rastejar por todos os abismos das trevas da ignorância e recolher aqueles que, de uma forma ou de outra, ajudei a cair. Umas vezes por omissão, outras por ciúmes, ódio, inveja, falsidade, paixão, etc., etc., etc.
Só assim poderei reconstruir a minha torre, e espero um dia poder transformá-Ia num farol que ilumine o caminho dos que queiram seguir-me, elevando, assim, suas torres à minha volta.
- Quem foi o mestre que o instruiu, amigo Sete Guizos?
- Já lhe disse. Foi aquele que vocês tentaram arrancar da carne.
- E pensar que eu tentei destruir a quem tanto tentou ajudar-me a alcançar a luz da verdade.
- Não foi só você, chefe. Todos os que estão neste abismo tentaram a mesma coisa.
-Como?!!
- Isto mesmo, chefe. Todos os que estão aqui esquecidos tentaram fazer o mesmo, e caíram um pouco mais.
- Por que tantos não conseguiram derrubá-lo?
- Você pode subjugar uma Lei Divina?
- Não Agora eu sei que ela se faz por si mesma, e ampara a quem tem que ser amparado, assim como verga a quem se faz por merecer tal ação por parte dela.
- É isto, chefe! Ninguém poderá derrubá-lo senão ele mesmo
Ele é seu juiz e seu algoz. Enquanto agir na luz da razão, nada o destruirá, mas no dia em que afrontar a Lei, ele mesmo se destruirá.
Assim é a Lei! Assim sempre será, como sempre tem sido.
- Compreendo
- Não fique triste, chefe! Existem mais alguns abismos cheios dos que estão tentando destruí-lo. Logo estarão no ponto de descerem um pouco mais, ou reiniciarem suas doloridas ascensões aos domínios da luz do saber.
- Existem outros abismos função do mesmo desejo de destruí-lo?
- Isto mesmo, chefe. O sétimo círculo descendente abriu suas portas e lançou contra ele todo o seu potencial são golpeados com a mesma fúria que os executores das Trevas golpeiam as suas últimas. É o inverso na aparência e na finalidade.
- Como assim?
- Nas Trevas você golpeia sua vítima e causa-lhe dor com o intuito de destruí-lo, mas na Luz você sofre os golpes que despertarão a justa justiça da Lei, que vergará até o extremo o injusto golpeador.
.- Meu Deus! O tempo todo nós fomos vigiados pela Lei.
- Isto mesmo, chefe. Eu ainda tentei dissuadi-lo de se meter com ele, não?
-Sim.
- Ainda tentei fazê-lo ver que somente a mim competia fazê-lo sofrer a ação da Lei, e você não me deu ouvidos.
- Sinto muito ter lhe atacado, mas ao final de tudo foi um bem para mim.
- Por que diz que foi um bem para você, se está todo ferido, marcado e magoado?
- Tal ação evitou que eu continuasse a praticar o mal. Se não fosse isso, eu continuaria a prejudicar meus semelhantes.
- Está se transformando para melhor, chefe.
- Estou despertando para a luz da razão
- Mas ainda não está salvo, chefe. Está sujeito à ação de seu tormento, e quando menos suspeitar estará se lançando nas trevas da ignorância, e então cavará um abismo mais profundo do que este.
- Vou lutar para que isso não aconteça, Sete Guizos.
- Como?
- Clamando ao único que me restou, e o único que me ouvirá neste abismo profundo. Se somente Deus pode me ouvir, então clamarei por Ele e sei que serei ouvido.
- Isto é certo, executor. Mas o tão ansiado auxílio poderá demorar para chegar. Ele terá que encontrar alguém que queira descer até aqui para resgatá-lo e ajudá-lo a se curar e reiniciar sua caminhada. Como fará, se não tem quem que se lembre de você?
- Não importa, meu amigo! Deve haver alguém, em algum lugar, que queira, num gesto extremo de caridade e amor, vir auxiliar-me, quando assim Deus achar que eu merecer.
- Você até que não é burro, executor.
- Por que não me chama pelo meu nome?
- Qual é o meu?
- Sete Guizos.
- Quem tem Sete Guizos?
- Uma cascavel.
- Então o que sou?
- Uma cascavel.
- É isto executor! Eu serei o que sou enquanto restarem pedras espalhadas que possam compor a minha torre. Ela alcançará a Luz no dia em que eu reconstruí-la. Até lá, eu sou o que sou, não importando a aparência que eu venha a assumir. Somente deixarei de ser um "Sete Guizos" no dia em que todas as pedras destinadas à minha torre estiverem em seus devidos lugares, formando um sólido farol a iluminar as Trevas, onde tantos ainda rastejam na ignorância dos vícios adquiridos na carne e intensificados na vivência espiritual.
Neste momento, os guizos começaram a soar e ele falou:
- Está na hora de ir, executor.
- Por que ninguém foi picado pelos seus amigos?
- Só porque vocês desejam livrar-se dos seus tormentos imaginam que outros devam se atormentarem também? Nem todos os que estão ocultos sob a forma de répteis são venenosos. Muitos a mantém, assim como eu faço, por simples conveniência. Assim podem fazer o bem e reconstruir suas torres que um dia destruíram por praticarem o mal.
Olhe para nós executor. Veja que de nós todos esperam apenas o mal. Por isso somos temidos e evitados, enquanto que daqueles que têm a forma humana, ninguém sabe o que esperar. Muitos sofrem duros golpes, se desiludem e revoltam-se contra a Lei Maior e seu maior guardião, que é Deus: a Lei Viva e a Vida da Lei.
Quando alguém vê uma cascavel praticar o bem, se surpreende porque dela só esperava o mal. É o inverso do que acontece com os que mantém a forma humana: todos esperam que ele faça somente o bem, e no entanto se surpreendem quando ele faz o mal. Depois não têm a calma suficiente para confiar na Lei Divina que diz: "Quem prega o amor, com amor será compensado, e quem prega o ódio, com o ódio será pregado.”
Bem, os guizos já chacoalharam pela terceira vez. É hora de voltar à crosta.
- Por que vieram até nosso abismo?
- Antes do mal bater à sua porta, a Lei manda alguém para avisá-lo.
- Como assim?
- Seu tormento está prestes a se consumar. A transformação então cessará, e vocês ou subirão ou descerão, pois o guardião transformador quer este abismo vazio em pouco tempo.
- Então virão aqueles que tentarão induzir-nos a uma nova queda?
- Sim.
- Mas por que vieram vocês, cascavéis, e não espíritos luminosos?
- Onde vocês estão?
- Nas Trevas.
- Se vocês estivessem na Luz e alguém quisesse lhes falar, não poderia usar uma forma das Trevas, para não chocá-los. Assim como um homem casado com uma mulher não tão bela na aparência física nunca irá trocá-la por uma mais feia e sim por uma mais bonita, você todos viram cascavéis que Ihes falaram para começarem a fazer as coisas da forma correta.
- Quem virá nos atormentar?
- Quem virá para induzi-los a escolherem o caminho mais curto que os leva para fora deste abismo serão as cobras negras. Comecem a descobrir o simbolismo das aparências, e saberão porque as cascavéis são rajadas, numa mescla de branco e preto. Então saberão que ainda estão submetidas à ação, tanto da luz, quanto das Trevas. Cobras totalmente negras significa que não há mais luta, pois fizeram suas escolhas finais e se entregaram às Trevas. Para esses não há mais um caminho de volta, e a queda é constante em suas imundas existências. Para eles, restará apenas uma trilha que desce, e a cada metro que descem, aquilo que ficou para trás apaga-se e forma-se às suas frentes.
È a Lei, executor. Até qualquer dia.

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