"Ninguém precisa esperar tornar-se santo ou resolver-se intimamente para, só então, trabalhar em favor de algo nobre, que valha a pena, ou em favor de alguém. É possível empreender desde já o trabalho, com os recursos disponíveis em cada momento e, desse modo obter continuamente a capacitação para tarefas mais complexas, mais amplas.”
De  fácil compreensão e com a participação de personagens famosos, como  Chacrinha e Raul Seixas, “Faz parte do meu show” é um livro recomendável  principalmente àqueles que ainda não estão familiarizados com as  leituras espíritas. Ainda assim, na forma de narrativa em primeira  pessoa, o personagem principal nos oferta uma série de informações da  vida pós-morte que não estão presentes em outros livros do gênero.  Assuntos como a sexualidade, o abuso das drogas e a violência encontram  sua correspondência espiritual e suas consequências antes e pós  desencarne, e são compreendidas pelo autor, que nos ensina à medida que  aprende, compartilhando (para utilizar um termo atual) sua experiência  com o leitor. 
No livro, o espírito que - embora  não se identifique - podemos identificar como o músico e poeta Cazuza,  descreve seus primeiros momentos após o desencarne, suas descobertas, o  encontro com inúmeros colegas desencarnados e sua adaptação, trabalhando  junto àqueles que apresentam envolvimentos semelhantes aos que ele  próprio desenvolveu ao longo de sua mais recente encarnação. Tudo isto  com a ajuda do espírito Ângelo Inácio e do médium Robson Pinheiro.  
Selecionei alguns trechos do livro que julgo trazerem informações importantes, em um resumo técnico, retirado dos diálogos que permeiam o “romance espiritual”.
Do trabalho espiritual
“É da lei divina que os semelhantes auxiliem a si próprios na elevação espiritual”.  
“Foi  ali que descobri como funcionam as leis da vida. Podemos ficar anos e  anos lamentando e sofrendo, mergulhados em nossa culpa, ou, ao invés  disso, aproveitar as oportunidades da vida para trabalhar muito. Assim, à  medida que caminhamos, encontramos solução para os eventuais problemas  que todos trazemos dentro de nós, paulatinamente. Ninguém precisa  esperar tornar-se santo ou resolver-se intimamente para, só então,  trabalhar em favor de algo nobre, que valha a pena, ou em favor de  alguém. É possível empreender desde já o trabalho, com os recursos  disponíveis em cada momento e, desse modo obter continuamente a  capacitação para tarefas mais complexas, mais amplas. O próprio  trabalho, segundo pude aprender com a equipe do Frei Luiz, é a  terapêutica por excelência; à medida que trabalhamos, resolvemo-nos  diariamente, sem cobrança de perfeição.”  
“Vi que  muitos espíritos em situação moral semelhante à minha entregavam-se há  anos intermináveis de lamentável angústia. Traziam, como eu, a  consciência culpada; todavia, não se abriam para novas oportunidades de  trabalho e, conseqüentemente, para receberem novas formas de auxílio.”  
Da reencarnação  
“Foi  num desses dias que o Santuário recebeu uma equipe de espíritos  samaritanos, que conduziam 14 outros espíritos em estado lastimável.  Eram antigos membros do narcotráfico, que morreram de maneira brusca,  violenta e complicada em um enfrentamento de grandes proporções nos  morros do Rio de Janeiro. Minha atenção foi despertada juntamente com  uma curiosidade sem limites”.  
“Frei Luiz, o  espírito responsável pelas atividades naquele lar, convidou-me a  acompanhá-lo na recepção aos recém-desencarnados. Tais espíritos traziam  a aparência de mendigos espirituais. Vestiam-se com trajes sujos e  rotos; odor forte e desagradável emanava de cada um deles. Estremeci  assim que me aproximei dos espíritos. Frei Luiz me amparou através de  seu olhar profundo, cheio de equilíbrio.”  
“Notei  que esses seres pareciam vagar sem saber para onde iam. Talvez nem  soubessem que haviam morrido para o mundo. Quem os visse certamente  associaria sua aparência com aqueles filmes de terror que mostravam os  chamados mortos-vivos. Era horripilante. Comportavam-se como zumbis.”  
“Frei  Luiz aproximou-se de cada um, falando baixinho nos ouvidos deles,  locava de leve a cabeça de cada espírito, como a fazer um carinho,  talvez um cafuné, mas eles não lhe registravam a presença. Apenas  caminhavam, conduzidos por um samaritano. Frei Luiz beijou a face de um  por um e os deixou seguir.”  
“- Esses, meu filho -  principiou o mentor -, são espíritos dementados e seriamente afetados  em seu psiquismo mais profundo, devido ao grande mal que causaram aos  seus semelhantes. Acostumados apenas a questões materiais, ligados ao  poder e ao dinheiro, nem sequer sonham com a possibilidade de uma vida  espiritual. É nosso dever ampará-los e conduzi-los ao internamento  imediato.”  
“- Então receberão tratamento médico-espiritual e depois serão esclarecidos quanto à sua situação de desencarnados?”  
“-  Não é tão simples assim, meu filho. O único tratamento eficaz para eles  é a reencarnação. Serão conduzidos a novos corpos físicos. No caso de  espíritos como esses que ora recebemos, que se especializaram no tráfico  de drogas e no desrespeito total à vida, é necessário um corretivo  social, internados em corpos físicos. Naturalmente que não retornarão ao  mesmo meio de onde vieram, pois assim poderiam prejudicar novamente a  comunidade à qual se vincularão. Experimentarão situação social  compatível com a sua necessidade de reeducação.”  
“- E onde espíritos assim poderão reencarnar para se corrigir ou educar?”  
“-  Passarão primeiramente por um breve tratamento magnético e somente após  essa etapa poderão ser encaminhados a seus novos corpos. Onde? No caso  específico desses irmãos, renascerão como mulheres, nos países árabes.  Lá, sob o regime austero que vigora em certas nações, e por imposição da  sociedade e da cultura a que estarão vinculados, enfrentarão as duras  provas que promoverão o reajuste necessário. Somente bem mais tarde,  após várias peregrinações nessas condições, é que poderão retornar ao  clima espiritual do Brasil.”  
“Esta, a razão pela  qual o internamento em novos corpos físicos, através da reencarnação,  será a terapia emergencial à qual fazem jus. Há outro aspecto envolvendo  o caso desses traficantes. Ao reencarnarem em país distante do atual,  em corpos femininos e "disfarçados" em meio a uma sociedade exigente,  religiosa e austera, estarão também temporariamente escondidos de seus  próprios obsessores particulares. Como você pode notar, todo o contexto  reencarnatório, inclusive o ambiente cultural bastante diverso, foi  planejado em detalhes, pois essa é uma etapa que merece cuidados  especiais com vistas à reeducação de tais espíritos.”  
O Sexo  
“Passar  para o outro plano da vida, pura e simplesmente, não implica que o ser  se encontre em plena vivência da espiritualidade. De modo algum.  Consideradas as questões vibracionais, logo após o plano físico  encontramos a dimensão das emoções. É o chamado plano astral, onde se  externa do espírito todo o atavismo milenar registrado em seu corpo  espiritual. Comer, beber, dormir, fazer sexo são situações vividas  durante milhares de anos nas diversas experiências reencarnatórias.  Quando vêm para o lado de cá, na dimensão onde nos encontramos, é  natural que os corpos espirituais tragam impressos em sua memória todas  as experiências vivenciadas pelo ser. Tornam-se, assim, compreensíveis  as sensações de fome e de sede, os desejos e os impulsos de sexualidade,  que são gerados e elaborados na intimidade do espírito. No fim das  contas...”  
“- Quer dizer que o sexo não é algo pecaminoso? - não me contive e o interrompi.”  
“-  Claro que não! Nunca foi pecado e jamais o será! Por mais que preceitos  moralistas, sustentados por indivíduos imaturos de todas as épocas,  procurem transformar aquilo que Deus criou em erro, vergonha ou motivo  de escárnio. Do lado de cá, o pensamento é tudo, e, já que a memória  espiritual guarda os registros de todas as experiências...”  
“-  Vocês então vêem com naturalidade as manifestações do desejo entre os  desencarnados? - novamente intervim na explicação de Tony, intrigado com  o que acabara de ouvir.”  
“- Podemos dizer: é  algo tido como natural entre os recém-desencarnados. À medida que o  espírito se libera das impressões sensoriais de sua última existência, o  corpo espiritual reflete imediatamente a nova situação mental. Sexo é  transfusão de energias, seja entre encarnados ou desencarnados. Os  religiosos é que geralmente transformam o sexo em tabu ou em algo  proibido, profano.”  
“- Então posso considerar natural eu sentir as mesmas reações que sentia quando vivo?”  
“-  Vivo você permanece, como permanece viva na Terra a memória daquilo que  você fez e de quem você foi, a sua arte e a sua obra. As reações de  fome, sede e sexualidade só se manifestam do lado de cá enquanto estamos  nas faixas de vibração próximas à da Crosta. Como lhe disse antes, ao  atingir a condição de espiritualidade o ser transcende a função dos  órgãos que ainda ostentamos em nosso corpo espiritual.”  
“- E por quanto tempo mais ficarei nessa vibração próxima à da Terra?”  
“-  Só Deus sabe, meu amigo. Todos nós estagiamos no plano astral, às vezes  por longos milênios, até que aprendamos o desapego da vida material.”  
Sexo - As formas pensamentos e os obsessores  
“Àquela  hora, no princípio da noite, garotas e garotos de programa iam e  vinham, muitos deles exibindo o próprio corpo, que punham à venda.  Alguns rapazes menos vulgares traziam os olhos afogueados pela paixão  por sexo. Travestis e alguns "entendidos", como se dizia antigamente,  pareciam disputar a preferência de homens que os procuravam para a  satisfação de seu apetite sexual. Permeando tudo e todos naquele local,  vi uma nuvem escura, que dava a impressão de descer lentamente, de modo  mais intenso sobre algumas pessoas em especial. Naquele mesmo instante, a  névoa cinza-chumbo que a compunha era aspirada através dos poros e da  respiração daqueles indivíduos.”  
“O que você vê,  meu amigo, é o resultado das criações mentais viciadas e viciantes. São  larvas e bactérias, astralinas e vibriões mentais que os nossos amigos  encarnados respiram juntamente com o ar que inalam.”  
“O  mundo está cheio de criações mentais dos seres humanos, e cada um  respira de acordo com o clima psíquico que lhe é próprio. Ao lado das  pessoas que divisava, dos garotos e garotas de programa que permaneciam a  disputar clientes como quem caça suas presas, sem sequer cogitar o que  ocorria, presenciávamos uma cena lastimável: espíritos em estado  deplorável, uma verdadeira multidão de seres agrupados de acordo com  suas afinidades. Alguns andavam, outros se arrastavam ou rastejavam sem o  corpo físico, com terrível aspecto de mendigos espirituais. Pareciam  conviver em harmonia com os humanos encarnados.”  
“Os  espíritos pareciam alheios a qualquer conceito de pudor e, muito menos,  elevação moral. Grudavam-se às pessoas ali presentes, sugando-lhes as  emanações etílicas e sensuais, tais como vampiros, ávidos pela energia  sexual. Indiferentes à idéia da imortalidade ou a maiores  responsabilidades, esses seres, invisíveis aos olhos humanos, praticavam  atos sexuais entre si. Comportavam-se de tal maneira a influenciar os  encarnados, que, aos poucos, cediam a seus estímulos. Na verdade, em  alguns casos a simbiose era tamanha que se tornava difícil distinguir  onde iniciava o impulso de um e terminava desejo do outro.”  
“Dirigi-me  instintivamente a uma outra parte da boate. Era um cômodo escuro e  fétido. Talvez os encarnados que lá procuravam o prazer fácil nem  sentissem o mal cheiro que o local exalava, mas era algo físico, tenho  certeza. O chão estava repleto de criações mentais que, a meus olhos,  assemelhavam-se a baratas. Os encarnados pisavam em tudo, e, à medida  que o faziam, tais criações subiam-lhes pelos pés e pernas,  alimentando-se de seus fluidos vitais. As paredes, pegajosas, pareciam  absorver as emoções ou anular o poder de raciocínio. Era a embriaguez no  mais alto grau, mais pela energia sexual que pelas drogas e bebidas,  que ali rolavam à vontade.”  
“Naquela sala  totalmente escura aos olhos humanos, ninguém era de ninguém. Era um  ambiente que os encarnados conheciam pelo nome de darkroom, devido à  total ausência de luz. Todos se possuíam sem se ver, e eram levados à  loucura.”  
Consequências  
“O  amor carnal é ainda, com seus prazeres, um dos mais irresistíveis  anseios da humanidade. A música, as luzes, o brilho e a fumaça do  ambiente compõem uma atmosfera repleta de certa magia, segundo o ponto  de vista dos encarnados, que dispersa qualquer sentimento ou propensão  mais elevada. As boates são construídas e elaboradas com esse objetivo  em mente. Caso não se procure sair imediatamente de tal lugar,  sucumbe-se logo ao império dos sentidos e das emoções. 
Torna-se difícil  escapar às sensações mais grosseiras. A energia sensual emanada nesses  ambientes assemelha-se ao forte magnetismo de um ímã ao atrair as  limalhas de ferro. Só que, nesse caso, as limalhas correspondem às  vibrações mais densas e às entidades que têm afinidade com elas.”  
“A  sexualidade, quando perturbada, arroja o ser para faixas inferiores da  vida. Tais pessoas, que se deixam dominar pelos excessos e perturbações  de suas energias sexuais, não cometem crime algum. No entanto, aqueles  que assim se comportam ligam-se às energias desgovernadas e às  companhias espirituais de seus parceiros. “  
“Dessa  forma, sujeitam-se a longos processos obsessivos. Quanto mais dão vazão  a todo tipo de extravasamento descontrolado da libido, o qual costuma  traduzir-se em promiscuidade, mais são submetidos a impactos espirituais  de grandes proporções. É uma violência. Regularmente, passam a entrar  em contato com vibrações tão variadas e funestas, com entidades tão  diversas e viciadas que, em casos mais graves e duradouros, apresentam a  tendência de ter a individualidade descaracterizada. O eu fica perdido  em meio a tantos parceiros, conluios espirituais e formas-pensamento  desvitalizantes.”  
“A energia sexual do ser sofre  desgaste ao longo do tempo, e, progressivamente, esse desperdício de  energias vitais acaba enfraquecendo o corpo e a mente. Excitada por uma  enorme quantidade de imagens sexuais, a mente vibra intensamente,  reproduzindo no corpo e no campo vital o ritmo da sobrecarga sexual. A  vida pede reeducação, e não simplesmente abstenção. Cada qual, de posse  da forma de manifestação do seu amor ou da sua energia sexual, é  responsável pelo uso ou abuso que fizer desses elementos. Compete a cada  um dar direcionamento superior à divina faculdade que lhe foi  concedida, a sexualidade, assim como ao divino patrimônio que lhe foi  confiado: os corpos, a mente e certa cota de vitalidade.”     
0 comentários:
Postar um comentário